segunda-feira, 21 de agosto de 2017

ESCÂNDALO NA TV



ESCÂNDALO NA TV (1976)

15 de Julho de 1974, Saratoga, na Florida (EUA), 9 e 38: Chris Chubbuck, de 30 anos de idade, jornalista do programa televisivo “Suncoast Digest”, da estação regional WXlT-TV, dirige-se aos telespectadores: “De acordo com a política adoptada pelo nosso canal, que todas as manhãs leva a cada casa, a cores, a vossa dose de sangue e de violência, vão ter, agora, o privilégio de assistir a uma extraordinária primeira-mão: uma tentativa de suicídio em directo”. Chris Chubbuck tira um revólver da sua mala, as câmaras focam-no em grande plano e ele apoia o cano da arma na têmpora direita. E, logo a seguir, dispara.
Este acontecimento realmente incrível, é autêntico. E terá influenciado o argumentista Paddy Chayefsky e o realizador Sidney Lumet na concretização de “Escândalo na TV” (Network), que pode ser considerado o primeiro grande filme de sátira eficaz e mesmo feroz às práticas, por vezes verdadeiramente atrozes, muitas vezes acintosamente impiedosas, que se exercitam no mundo das televisões norte-americanas. “Network” pode dizer-se, assim, sem receio de desmentidos, que oscila briosamente entre a realidade e a ficção. E com isto, pareceria estar tudo dito. Mas não.
Quais os mecanismos verdadeiros, ou laboriosamente arquitetados, que se encontram por detrás do pequeno ecrã?
Um apresentador de televisão que começa por dar as suas opiniões sobre o mundo e acaba por ser considerado uma espécie de novo Messias, é o início de “Network”. Mas depois há todo o mecanismo comercial e concorrencial das grandes cadeias de televisão que não hesitam perante nada para manterem os “picos” de audiência e as boas graças dos anunciantes. Este retrato implacável de um início manipulador como poucos é admiravelmente dado pela figura de Faye Dunaway, de uma frieza de comportamento e de um calculismo sem contemplações O que recoloca a questão: quais os interesses que mobilizam certos meios de comunicação social?
Os telespectadores são, as mais das vezes, ultrapassados por esta e outras perguntas para as quais as respostas são quase sempre demasiado vagas, inconsequentes até. O pequeno-grande mundo da televisão torna-se numa máquina trituradora do cidadão que, mais ou menos interessado, mais ou menos paciente, se “alimenta” do que o aparelho mágico lhe faz entrar em casa, sem autorização prévia. Chamam a isto o sortilégio do botão. Um simples clique, e eis-nos titulares do poder total e omnipresente.
 Cria-se, deste modo, um clima generalizado de intensa vivência do que acontece um pouco por todo o Mundo, e que leva a alucinação quotidiano, ferozmente competitiva, à paranóia colectiva. Faye Dunaway, Peter Finch, William Holden, Robert Duvall, Ned Beatty, John Carpenter (esse mesmo, o realizador), Beatrice Straigh entre outros, esforçam-se por transmitir para a pantalha cinematográfica o que se afigura passar nos bastidores do ecrã televisivo.


Poder-se-á, assim, referir que se organiza com este “Network” um processo de intenções sobre o que já se convencionou chamar a loucura da televisão, ou mesmo a hecatombe televisiva. Em sentido contrário são as opiniões dos que referem ser apenas a afirmação de mais um episódio da luta entre o celuloide cinematográfico e o vídeo televisivo. E neste combate todas as armas são utilizadas, embora nem todas devessem ser permitidas...
Tanto Paddy Chayefsky como Sidney Lumet estavam perfeitamente à vontade neste particular. Rotinados ambos no trabalho televisivo, habituados às limitações de espaço e de concepção do pequeno écran, eram, na altura,  homens mais dos indicados para passarem aos planos mais ambiciosos da tão cantada e recantada, Sétima Arte. Um, argumentista dos primeiros “dramáticos” da televisão americana, o outro tornado conhecido por ser o principal realizador dos “directos” televisivos dos anos 50. Não terá sido o acaso, muito longe disso, que os reuniu para concretizarem este “Escândalo na TV”.
Nos Estados Unidos, o público reagiu de uma forma notavelmente intensa ao filme. Dele se disse que era um “sucesso triunfal”, como se referiu que se tratava de “um produto de consumo e só”. Trata-se, em termos cinematográficos, de um trabalho que marca uma época e condiciona mentalidades. Quanto mais não fosse, por isso mesmo já seria importante. Chayefsky comentava, com uma candura indesmentivelmente forjada, que tudo o que havia descrito em “Network” “poderia ter acontecido e acontecerá sem dúvida. A televisão americana não recua perante nada para aumentar a sua audiência”. E a indústria cinematográfica?
O filme é de 1976. De então para cá, a situação agravou-se. Não só nos EUA, como um pouco por todo o lado. Em Portugal também, por isso “Escândalo na TV” se mostra tão actual.


ESCÂNDALO NA TV
Título original: Network
Realização: Sidney Lumet (EUA, 1976); Argumento: Paddy Chayefsky; Produção: Fred C. Caruso, Howard Gottfried; Música: Elliot Lawrence; Fotografia (cor): Owen Roizman; Montagem: Alan Heim; Casting: Juliet Taylor; Design de produção: Philip Rosenberg; Decoração: Edward Stewart; Guarda-roupa: Theoni V. Aldredge; Maquilhagem: John Alese, Susan Germaine, Lee Harman, Philip Leto; Assistentes de realização: Alan Hopkins, Ralph S. Singleton;  Direcção artística: Connie Brink; Som: Jack Fitzstephens, Marc Laub, Sanford Rackow, James Sabat, Dick Vorisek; Companhias de produção: Metro-Goldwyn-Mayer (A Howard Gottfried - Paddy Chayefsky Production), United Artists; Intérpretes: Faye Dunaway (Diana Christensen), William Holden (Max Schumacher), Peter Finch (Howard Beale), Robert Duvall (Frank Hackett), Wesley Addy (Nelson Chaney), Ned Beatty (Arthur Jensen), Arthur Burghardt (Great Ahmed Kahn), Bill Burrows (realizador de TV), John Carpenter (George Bosch), Beatrice Straight (Louise Schumacher), Jordan Charney, Kathy Cronkite, Ed Crowley, Jerome Dempsey, Conchata Ferrell, Gene Gross, Stanley Grover, Cindy Grover, Darryl Hickman, Mitchell Jason,,Paul Jenkins, Ken Kercheval, Kenneth Kimmins, Lynn Klugman, Carolyn Krigbaum, Zane Lasky, Michael Lipton, Michael Lombard, Pirie MacDonald, Russ Petranto, Bernard Pollock, Roy Poole, William Prince, Sasha von Scherler, Lane Smith, Ted Sorel, Fred Stuthman, Cameron Thomas, Marlene Warfield, Lydia Wilen, Lee Richardson, John Chancellor, Walter Cronkite, Andrew Duncan, Todd Everett,  Betty Ford, Gerald Ford, John Gabriel,  Tom Gibney, Lance Henriksen, Raymond Martino, Howard K. Smith, David Susskind, Michael Tucker, Ahmed Yamani, etc. Duração: 121 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): MGM; Classificação etária: M/ 12 anos.


WILLIAM HOLDEN (1918–1981)

William Holden, ou William Franklin Beedle, Jr., nome de baptismo, nasceu a 17 de Abril de 1918, em O'Fallon, Illinois, EUA, e viria a falecer a 12 de Novembro de 1981, aos 63 anos, em Santa Mónica, Califórnia, EUA. Filho de William Franklin Beedle, um químico industrial, e de Mary Blanche Ball, uma professora, aos três anos de idade transferiu-se a família para Pasadena, na Califórnia, onde ainda estudante começou a trabalhar como actor, integrado no Pasadena Junior College, até ser descoberto, em 1937, por um caçador de talentos da Paramount que lhe trouxe o seu primeiro contrato, iniciando a carreira como figurante e actor secundário, até atingir o estrelato, regressado do serviço militar, onde serviu durante a Segunda Guerra Mundial, voltando da guerra como tenente. Foi em “Stalag 17”, de Billy Wilder, que conquistou o Oscar como Melhor Actor, prosseguindo uma carreira cheia de grandes papéis em filmes inesquecíveis, como “Sunset Boulevard”, de Billy Wilder, “Born Yesterday”, de George Cukor, “The Moon Is Blue”, de Otto Preminger, “Escape from Fort Bravo”, de John Sturges, “Sabrina”, de Billy Wilder, “The Country Girl”, de George Seaton, “The Bridges at Toko-Ri”, de Mark Robson, “Love Is a Many-Splendored Thing”, de Henry King, “Picnic”, de Joshua Logan, “The Bridge on The River Kwai”, de David Lean, “The Key”, de Carol Reed, “Paris When it Sizzles”, de Richard Quine, “The Wild Bunch, de Sam Peckinpah, ou “Wild Rovers (Vagabundos Selvagens), de Blake Edwards, entre alguns mais. Para lá do Oscar que ganhou, foi ainda nomeado por duas outras ocasiões: por “Sunset Boulevard” (1951) e “Network” (1977). Morou em Genebra, na Suíça, e passou muito tempo em África, onde possuía o “Mount Kenya Safari Club”. Foi casado com a actriz Brenda Marshall durante vinte anos (1941-1971). Nos últimos anos de vida viajou em missões ecológicas e culturais, acompanhado da actriz Stefanie Powers. Dado ao álcool, haveria de falecer de forma estranha, após uma queda a que não deu importância. Foi encontrado morto em seu apartamento, a 15 de Novembro de 1981. O corpo foi cremado e suas cinzas espalhadas no Oceano Pacífico. Possui uma estrela no "Passeio da Fama", em Hollywood.

TAXI DRIVER


TAXI DRIVER (1976)


Um par de olhos arregalados e surpresos olham a realidade que os rodeia. É uma cidade em estado de sítio. Uma grande metrópole em frenesim. Noite. Ruas iluminadas por néons, dísticos publicitários, transeuntes que passam, apressados a furtarem-se à chuva, nuvens de vapor que se soltam dos respiradouros do metropolitano, jactos de água jorrando das bocas-de-incêndio desregularizadas. Táxis amarelos sulcando esta noite que se diria saída de um purgatório bruegheleano. E a música de Bernard Hermann, que se solta como um lamento dorido saído das entranhas da terra. Esta é a Nova Iorque de Martin Scorsese, que já a havia retratado anteriormente em “Os Cavaleiros do Asfalto” e que, posteriormente, muitas vezes voltaria a ela. Uma Nova Iorque inesquecível, que atrai e repele, que fascina e assusta.
O protagonista deste pesadelo é Travis Bickie (Robert De Niro), vinte e seis anos, fuzileiro regressado do Vietname com baixa honrosa, o que o leva a arranjar uma licença de taxista. Travis tem um rosto de miúdo, um sorriso tímido, um ar desconfiado, um trauma de todo o tamanho que lhe não permite fechar os olhos e dormir. Passa as noites a vaguear pela cidade, a pé ou em autocarros, vê filmes pornográficos em cinemas decrépitos, bebe cervejas e deixa-se invadir por uma revolta profunda. Deseja a chuva como dádiva dos céus, uma chuva que lave todas as imundices das ruas. O táxi traz-lhe um horário das seis da tarde às seis da manhã (às vezes mais). É duro, mas permite esquecer, estar “ocupado”. À noite “os animais saem das tocas, putas fedorentas, bichas, traficantes morais, ladrões corruptos…”
Travis faz pontaria com o seu táxi para passar por baixo de um jacto de água. É a forma de se lavar de tanta sujeira. “Um dia a tempestade limpará essa nojeira”. Quando termina o seu turno, às vezes tem de lavar o esperma e o sangue do banco traseiro. Travis continua a não dormir. Ele “só quer saber o caminho a seguir. Ninguém deve viver neste isolamento mórbido”. Aparece então a sede de campanha de um candidato que afirma que “nós somos o povo!” No staf da campanha, a bela Betsy (Cybill Shepherd), no seu imaculado vestido branco, é a imagem de um anjo redentor. Será esse o candidato que vai limpar a cidade? Puxar a “descarga desta latrina”?
O pesadelo da noite nova-iorquina continua. Um passageiro leva-o a espreitar por uma janela, onde se recorta uma silhueta de mulher. Depois de algum tempo de espera, o passageiro confessa que irá matar a adúltera com uma Magnum 44.  Travis, cada vez mais deprimido, procura o conselho do “sábio” (Peter Boyle). O caminho parece estar encontrado. Compra armas e prepara o corpo. Tem de ter os músculos em ordem. Nada de vida sedentária. Exercício. Travis desafia-se a si próprio. Desdobra-se ao espelho. “You talking to me?”
Nas ruas sombrias de Manhattan uma miúda de doze anos, Iris (Jodie Foster), prostitui-se. O seu “protector”, “Sport” (Harvey Keitel), tenta passá-la a Travis. Ali se encontra mais um exemplo de uma pureza pervertida. Travis vai registando, somando, deixando a raiva crescer. Até que um dia haverá de rebentar, de exorcizar-se num acto de violência total. Aí se irá jogar o futuro deste taxista, herói ou vilão desta história, uma entre centenas de outras, de seres impelidos para a violência por acontecimentos da sua vida privada ou da sua experiência social. A guerra do Vietname é neste caso uma explicação para o trauma que marca a existência de Travis. Mas muitas outras motivações podem explicar massacres que diariamente ocorrem um pouco por todo o lado.  O facto de Travis poder ser olhado como um herói torna ainda mais angustiante este filme onde o cidadão comum toma nas suas mãos a execução da justiça (que interpreta e concretiza segundo critérios próprios, logo eminentemente discutíveis).


Por tudo isso,”Taxi Driver” surge-nos como um dos retratos mais impressionantes da década de 70, no cinema norte-americano, ao lado de alguns outros que abordam o tema da desilusão nos valores da democracia norte-americana. Depois de uma época de certa revitalização de valores, nos anos 60, o período que se lhe seguiu foi nitidamente um desmontar da feira, o fim das ilusões, o desmanchar dos sonhos. “Taxi Driver” é um retrato fulgurante desse momento de desalento individual e colectivo. Se existem por essa altura vários filmes onde se abordam temas dramáticos e soturnos para a sociedade ianque, “Taxi Driver” parece organizá-los como uma antologia de horrores, da violência ao sexo desbragado, das drogas à solidão e ao desespero existencial, da corrupção estrutural ao caos urbano. Travis é o reflexo, a resposta objectiva a toda esta panóplia de argumentos em busca do comportamento mais reacionário e anti-social.
Um argumentista calvinista (que também é grande realizador), Paul Schrader, e um realizador católico, Martin Scorsese, cozinham esta obra que assume toda a complexidade religiosa, do crime ao castigo, da culpa à expiação. Este bailado trágico pelas artérias de uma grande cidade, pelas obsessões da noite, é regido com a precisão, o rigor, a meticulosidade de um inspirado orquestrador de movimentos, de cores, de sons, de respirações. O filme é uma obra-prima onde cada elemento desaparece sob a força do conjunto, mas onde cada contributo é objectivamente de uma importância decisiva, do já referido argumento de Paul Schrader à fotografia de Michael Chapman, da montagem de Tom Rolf e Melvin Shapiro à direcção artística de Charles Rosen, da fabulosa mistura sonora até à fulgurante composição musical de Bernard Herrmann que, após assinar os últimos acordes desta partitura, nos deixava para sempre, felizmente na companhia de algumas das mais espantosas bandas sonoras para cinema.
Se tecnicamente a obra é empolgante, não o será menos a magnífica interpretação de um elenco que ficará também ele para a História. Robert De Niro, ainda muito jovem, indeciso entre a timidez e a afirmação de uma violência vitalista, é brilhante. Travis é uma composição que não se esquece. Cybill Shepherd, Jodie Foster, Peter Boyle, Harvey Keitel, Leonard Harris, Albert Brooks, Martin Scorsese, cada um no seu registo, criam uma galeria de tipos que definem curiosos aspectos da sociedade norte-americana.
Scorsese é, certamente, um dos retratistas mais seguros da América no que esta tem de mais típico, para o bem e para o mal. Com “Taxi Driver” terá atingido um dos seus momentos de maior perfeição e clarividência. O filme ficará para sempre como um farol a iluminar a noite e a indicar, sem maniqueísmos, o perigo de comportamentos associais. E de populismos revanchistas. Uma América que continua dividida entre Trump, Clinton ou Sanders.  


TAXI DRIVER
Título original: Taxi Driver
Realização: Martin Scorsese (EUA, 1976); Argumento: Paul Schrader; Produção: Phillip M. Goldfarb, Julia Phillips, Michael Phillips; Música: Bernard Herrmann; Fotografia (cor): Michael Chapman; Montagem: Tom Rolf, Melvin Shapiro; Casting: Juliet Taylor; Direcção artística: Charles Rosen; Decoração: Herbert F. Mulligan; Guarda-roupa: Ruth Morley;  Maquilhagem: Irving Buchman, Mona Orr, Dick Smith; Direcção de Produção: Phillip M. Goldfarb;  Assistentes de realização: Robert P. Cohen, William Eustace, Peter R. Scoppa, Ralph S. Singleton;  Departamento de arte: Leslie Bloom, David Nichols, Cosmo Sorice, Carter Stevens; Som: Rick Alexander, Gordon Davidson, James Fritch, Sam Gemette, David M. Horton, Les Lazarowitz, Roger Pietschmann, Vern Poore, Robert Rogow, Tex Rudloff, Frank E. Warner; Efeitos especiais: Tony Parmelee; Companhias de produção: Columbia Pictures Corporation, Bill/Phillips, Italo/Judeo Productions; Intérpretes: Robert De Niro (Travis Bickle), Cybill Shepherd (Betsy), Jodie Foster ("Easy", Iris Steensma), Peter Boyle ("Wizard"), Harvey Keitel ("Sport"), Leonard Harris (Senador Charles Palantine), Albert Brooks (Tom), Martin Scorsese (passageiro do táxi de Travis), Victor Argo (dono de mercado), Steven Prince ("Easy Andy", vendedor ilegal de armas), Diahnne Abbott, Frank Adu, Gino Ardito, Garth Avery, Harry Cohn, Copper Cunningham, Brenda Dickson, Harry Fischler, Nat Grant, Richard Higgs, Beau Kayser, Victor Magnotta, Bob Maroff, Norman Matlock, Bill Minkin, Murray Moston, Harry Northup, Gene Palma, Harlan Cary Poe, Peter Savage, Nicholas Shields, Ralph S. Singleton, Joe Spinell, Maria Turner, Robin Utt, Tommy Ardolino, Joseph Bergmann, William Donovan, Jean Elliott, Annie Gagen, Trent Gough, Carson Grant, Mary-Pat Green, Robert John Keiber, James Mapes, Debbi Morgan, Billie Perkins, Don Stroud, Frankie Verroca, etc. Duração: 113 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia Filmes; Classificação etária: M/ 18 anos; Data de estreia em Portugal: 15 de Abril de 1977.


ROBERT DE NIRO (1943 - )
Robert Anthony De Niro Jr. Nasceu em Nova Iorque, a 17 de Agosto de 1943, filho de Virginia Holton Admiral, pintora e poeta, e Robert De Niro Sr., pintor expressionista abstracto e escultor. Robert De Niro tem assim ascendência italiana, irlandesa, inglesa, alemã, francesa e holandesa, tanto por parte de pai como mãe. Mas a ascendência italiana é dominante, tanto mais que os bisavós, Giovanni De Niro e Angelina Mercurio, emigraram de Ferrazzano, da provincia de Campobasso, Molise. Com os pais divorciados, foi criado pela mãe em Little Italy, Manhattan, e Greenwich Village. Frequentou uma escola primária pública de Manhattan, e depois a privada Elisabeth Irwin High School. Andou por outras escolas, mantendo sempre o seu grupo de amigos de rua de Little Italy, Parece que a sua primeira experiencia teatral foi uma representação escolar de “O Feiticeiro de Oz” (era o leão medroso). Aos 16 anos abandona a escola mas ingressa no Stella Adler Studio of Acting e, depois, no Actors Studio, de Lee Strasberg.Em 1963, estreia-se no cinema, pela mâo de Brain de Palma “The Wedding Party” (Festa de Casamento), filme que só se estrearia em 1969. Por isso surgem como filmes iniciais seus “Trois chambres à Manhattan” (Três quartos em Nova Iorque), em 1965, e “Greetings”, de Brain De Palma, em 1968. Prinicipiava assim uma notável carreira como actor, mas também como argumentista, realizador, produtor, que se pode comprovar na filmografia em anexo, onde se assinalam os seus principais títulos. Nela, fica bem visível a sua particulra amizade com Brian De Palma e Martin Scorsese.

Filmografia /Principais filmes: 1964: The Wedding Party (Festa de Casamento), de Brian De Palma: (filme só estreado em 1969); 1965: Trois Chambres à Manhattan (Três Quartos em Manhattan), de Marcel Carné; 1968: Greetings, de Brain De Palma; 1970: Bloody Mama (O Dia da Violência), de Roger Corman; Hi, Mom! de Brian De Palma; 1973: Mean Streets (Os Cavaleiros do Asfalto), de Martin Scorsese; 1973: Bang the Drum Slowly (Toca o Tambor Devagar) de John D. Hancock; 1974: The Godfather: Part II (O Padrinho: Parte II), de Francis Ford Coppola; 1976: Taxi Driver (Táxi Driver), de Martin Scorsese; he Last Tycoon (O Último Magnata), de Elia Kazan; 1900, de Bernardo Bertolucci; 1977: New York, New Yorkk, de Martin Scorsese; 1978: The Deer Hunter (O Caçador), de Michael Cimino; 1980: Raging BullO (Touro Enraivecido), de Martin Scorsese;1983: The King of Comedy (O Rei da Comédia), de Martin Scorsese; 1984: Once Upon a Time in America (Era Uma Vez na América), de Sergio Leone; 1984: Falling in Love (Encontro com o Amor), de  Ulu Grosbard; 1985: Brazil (Brazil: O Outro Lado do Sonho), de Terry Gilliam; 1986. The Mission (A Missão), de Roland Joffé; 1987: Angel Heart (Nas Portas do Inferno), de Alan Parker; The Untouchables (Os Intocáveis), de Brain de Palma; 1988: Midnight Run (Fuga à Meia-Noite), de Martin Brest; 1989: We're No Angels (Ninguém é Santo), de Neil Jordan; 1990: Awakenings (Despertares), de Penny Marshall; Goodfellas (Tudo Bons Rapazes), de Martin Scorsese; Stanley & Iris (Para Iris com Amor), de Martin Ritt; 1991: Guilty by Suspicion (Na Lista Negra) de Irwin Winkler; Backdraft (Mar de Chamas), de  Ron Howard; 1992: Cape Fear (O Cabo do Medo), de Martin Scorsese; 1993: A Bronx Tale (Um Bairro em Nova Iorque), de Robert De Niro; Mad Dog and Glory (Uma Mulher entre Dois Homens), de  John McNaughton; This Boy's Life (A Vida deste Rapaz), de Michael Caton-Jones; 1994: Mary Shelley's Frankenstein (Frankenstein), de Kenneth Branagh; 1995: Heat (Cidade sob Pressão), de Michael Mann; Casino (Casino), de Martin Scorsese; 1996: Sleepers (Sentimento de Revolta), de Barry Levinson; Jackie Brown (Jackie Brown); de Quentin Tarantino; Wah the Dog (Manobras na Casa Branca), de Barry Levinson; 1998: Ronin (Ronin), de John Frankenheimer; Great Expectations (Grandes Esperanças), de Alfonso Cuarón; 1999: Analyze This (Uma Questão de Nervos), de  Harold Ramis; Meet the Parents (Um Sogro do Pior), de Jay Roach; 2001: 15 Minutes (15 Minutos), de John Herzfeld; The Score (Sem Saída), de Frank Oz; 2006: The Good Shepherd (O Bom Pastor), de Robert De Niro; 2009: Everybody's Fine (Estão Todos Bem), de Kirk Jones; 2010: Machete, de  Ethan Maniquis, Robert Rodriguez; 2100: Limitless (Sem Limites), de Neil Burger; 2012: Silver Linings Playbook (Guia para um Final Feliz), de David O. Russell; 2013: Malavita, de Luc Besson; Last Vegas (Last Vegas - Despedida de Arromba), de Jon Turteltaub; American Hustle (Golpada Americana), David O. Russell; Grudge Match (Grudge Match: Ajuste de Contas), de Peter Segal; 2015: The Intern (O Estagiário), de Nancy Meyers; 2016: Hands of Stone (Mãos de Pedra), de Jonathan Jakubowicz; 2018: The Irishman, de Martin Scorsese (em preparação).

Principais prêmios: Oscar: venceu: The Godfather: Part II (1974), The Deer Hunter (1978), Raging Bull (1980), Awakenings (1990); nomeações: Silver Linings Playbook (2012), Cape Fear (1991), Taxi Driver (1976). Ganhou ainda diversos Globos de Ouro e algumas nomeações; BAFTAS; Berlin, David di Donatello Awards, Hollywood Film Awards, Karlovy Vary International Film Festival, Los Angeles Film Critics Association Awards, Moscow International Film Festival, New York Film Critics Circle Awards, San Sebastián International Film Festival, Sarajevo Film Festival, Taormina International Film Festival, Venice Film Festival e muitos outros. È um dos actores mais remiados de sempre. 

domingo, 28 de maio de 2017

OS HERÓIS DE CORDURA

OS HERÓIS DE CORDURA (1959)

Este filme de Robert Rossen é particularmente interessante sob diversos pontos de vista, ainda que não seja dos seus melhores trabalhos. Argumentista com vasta obra, realizador de uma dezena de títulos sempre importantes pela forma como abordou temas fortes com um estilo seguro e eficaz (citam-se, entre outros, “A Hora Decisiva”, “Corpo e Alma”, “A Corrupção do Poder”, “Sangue na Arena”, “Alexandre, o Grande”, “A Vida é um Jogo” ou “Lilith e o Destino”, além deste “Os Heróis de Cordura”), Rossen marcou lugar destacado nas décadas de 40 e 50.  Durante o período da Caça às Bruxas em Hollywood, foi chamado a depor perante a  House of Un-American Activities Committee (HUAC) e recusou-se a revelar nomes de possíveis comunistas. Incluído na lista negra de Hollywood, não trabalhou durante dois anos. A 7 de Maio de 1953 voltou à Comissão e revelou o nome de vários prováveis elementos pertencentes ao PC norte-americano. 
"They Came To Cordura" data de 1959 (posteriormente o realizador criaria talvez as suas duas obras-primas “A Vida é um Jogo” e “Lilith e o Destino”), e aborda um tema muito pouco explorado pelo cinema norte-americano. Creio que se percebe porquê, pois trata-se de matéria delicada para a política internacional dos EUA. Para se perceber melhor o melindre da questão, necessário se torna enquadrar historicamente o episódio relatado.
No inicio do século XX, o México viveu momentos agitados. Passava-se por um ciclo revolucionário que conheceu momentos distintos. Primeiro, o presidente Francisco Madero procurou instituir um regime constitucional, mas, em 1913, o General Huerta conspirou para o assassinar, ao que consta com a cumplicidade de um embaixador dos EUA no México. O presidente norte-americano Woodrow Wilson terá mandando recambiar o embaixador, mas a revolta contra os EUA estalou no México, com muitos mortos e a bandeira injuriada e a confiança em Huerta foi substituída pelo auxílio americano prestado a um tal “Pancho” Villa, violento rebelde dado a bebida e mulheres.  De pouco valeu a mudança táctica, pois pouco depois será o próprio “Pancho” Villa a mudar de campo e a combater os EUA, quando estes o deixaram de apoiar e o trocaram pelo General Venusiano Carranza, que se afirmava constitucionalista. Estamos já em 1916 e o México não ganha a paz. Furioso, Villa resolve dar uma lição aos gringos e invade os EUA, atacando a cidade de Colombus, no New México. Está na hora de serem os EUA, pela batuta do Presidente Wilson, a vingarem a afronta. Exigem ao General Carranza que anule Villa, mas como este nada consegue, manda avançar as tropas norte-americanas para o interior do México, numa intervenção punitiva, sob as ordens do General John J. Pershing. Durante um ano, Pershing tenta apanhar Villa, sem sucesso, sendo então mandado retirar. Sem glória e perante a chacota dos mexicanos. 


O filme de Robert Rossen inicia-se precisamente por esta altura e foca um episódio específico, que é o centro de um romance de Glendon Swarthout, que Ivan Moffat e o próprio Robert Rossen adaptam ao cinema. Gary Cooper interpreta aqui a figura do Major Thomas Thorn, que parte para o México à procura de “heróis”, ou seja militares que se tenham notabilizado por actos de extrema coragem durante os confrontos com as forças mexicanas, para que lhe fosse atribuída a Medalha de Honra. A ideia parece um pouco absurda, mas estávamos na véspera da participação dos EUA na I Guerra Mundial, e estes heróis iriam preparar a opinião pública para a partida do contingente militar para a Europa. Acontece que o Major Thorn esconde no seu passado militar atitudes que não se podem de forma alguma considerar corajosas e a mistura resulta explosiva, quando ele escolhe cinco militares que viu actuar com extrema coragem em vários episódios bélicos por si presenciados. Esses cinco militares, interpretados por actores como Van Heflin, Richard Conte, Michael Callan, Tab Hunter e Dick York, são tudo menos gentlemen e a viagem de regresso a Cordura é uma sucessão de quezílias violentas, com alguns dos militares a oporem-se a serem medalhados, pois o facto trar-lhes-ia mais inconvenientes que vantagens. Depois, além destes seis militares com muito para se recriminarem mutuamente, surge ainda a figura de uma norte-americana que vivia no México, que hospedara guerrilheiros de Villa, e que regressa, também ela contrafeita, aos EUA. Adelaide Geary (Rita Hayworth) provoca igualmente outro tipo de disputa, entre homens sem mulher há meses, sem bebida, sem tabaco, sem água e cada vez mais extenuados por uma viagem alucinante pelas terras tórridas do México. 
O que Robert Rossen procura sobretudo discutir é o conceito de coragem e o seu contrário, a cobardia. Nesse particular, o filme é extremamente interessante e corajoso, abanando os alicerces das convicções mais profundas. Mas para o projecto ser mais conseguido, Rossen deveria ter cortado alguns minutos a esta aventura que se alonga demasiado, muito embora a realização seja intensa e nervosa, e as interpretações magníficas, sobretudo de Gary Cooper e Rita Hayworth, ambos no declínio das suas carreiras, mas ainda em grande forma. 

OS HERÓIS DE CORDURA 
Título original: They Came to Cordura 
Realização: Robert Rossen (EUA, 1959); Argumento: Ivan Moffat, Robert Rossen, segundo romance de Glendon Swarthout; Produção: William Goetz; Música: Elie Siegmeister; Fotografia (cor): Burnett Guffey; Montagem: William A. Lyon; Design de produção: Cary Odell; Direcção artística: Cary Odell; Decoração: Frank Tuttle;  Guarda-roupa: Jean Louis; Maquilhagem: Clay Campbell, Helen Hunt, Armiene, Ben Lane, Robert J. Schiffer; Assistentes de realização: Carter De Haven Jr., Milton Feldman, James Curtis Havens, R. Robert Rosenbaum, David Salven, Roger Slager; Departamento de arte: Ray Bassell, Irving Goldfarb, Edward Goldstein, Harry Hopkins, David Horowitz; Som: John P. Livadary, George Cooper, Sol Jaffe, Harold Lee, Ernest Reichert, George Roncon; Departamento de arte: Columbia Pictures Corporation, A Goetz-Baroda Production, A Goetz-Baroda Production; Intérpretes: Gary Cooper (Major Thomas Thorn), Rita Hayworth (Adelaide Geary), Van Heflin (Sgt.John Chawk), Tab Hunter (Lt. William Fowler), Richard Conte (Cpl. Milo Trubee), Michael Callan (Pvt. Andrew Hetherington), Dick York (Pvt. Renziehausen), Robert Keith (Colonel Rogers), Carlos Romero (Arreaga), Jim Bannon (Capt. Paltz), Edward Platt, Maurice Jara, Sam Buffington, Arthur Hanson, Clem Fuller, Wendell Hoyt, Maggie, etc. Duração: 123 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia; Tristar; Classificação etária: M/ 12 anos. 

GARY COOPER 
(1901-1961)
Frank James Cooper nasceu a 7 de Maio de 1901, em Helena, Montana, EUA, e viria a falecer a 13 de Maio de 1961, em Beverly Hills, Los Angeles, Califórnia, EUA, com 60 anos, vítima de um cancro na próstata. Casado com uma única mulher, Sandra Shaw (1933-1961), contam-se, no entanto, várias ligações extramatrimoniais, com actrizes e personalidades muito conhecidas. 
Era filho de Charles Henry Cooper, inglês, advogado, que deixou Inglaterra aos 19 anos e se tornou juiz do Supremo Tribunal do Estado de Montana, antes de comprar um rancho e se dedicar inteiramente à agricultura (“o meu pai era um verdadeiro Westerner”, conta Gary Cooper). Em 1910, o jovem Cooper viaja com a mãe até Inglaterra e, na volta, apaixona-se igualmente pela vida de rancheiro. Foi guia no Yellowstone Park. Na universidade, teve os primeiros contactos com a arte de representar e deixou-se sucumbir aos encantos de Hollywood, para onde partiu, inicialmente para se ocupar em pequenos papéis de figuração. O seu primeiro trabalho “visível” terá sido em 1926, em “The Winning of Barbara Worth” (A Flor do Deserto), de Henry King. A partir daí, interveio em mais de uma centena de obras, muitas das quais como protagonista, sendo um dos mais requisitados actores de Hollywood, sobretudo no campo do western. Ícone de várias gerações, que viam nos seus olhos claros o reflexo de um herói sem mácula, Gary Cooper possuiu uma carreira marcada por grandes sucessos, que se podem consultar na sua filmografia. Ernest Hemingway, por exemplo, achou que Gary Cooper tinha sido o actor ideal para interpretar as adaptações de dois dos seus romances mais célebres: “O Adeus às Armas” (1932) e “Por Quem os Sinos Dobram” (1943). 
Politicamente era conservador, foi chamado à Comissão de Actividades Anti-Americanas e não revelou qualquer nome, defendeu Carl Foreman, enquanto argumentista de “High Noon” e pediu a John Wayne, que acusara o filme de “anti-americano”, para receber o Oscar de Melhor Actor em seu nome.  Ganhou dois Oscars, com “Sergeant York” (1941) e “High Noon” (1952) e foi nomeado mais três vezes, com “Mr. Deeds Goes to Town” (1936), “The Pride of the Yankees” (1942) e “For Whom the Bell Tolls” (1943). Recebeu ainda, em 1961, um Óscar Honorário pelo conjunto da obra. Em 1999, na lista organizada pelo American Film Institute, Gary Cooper era considerado o 11º melhor actor de todos os tempos. 
Em 1960, foi operado por duas vezes para retirar um cancro na próstata e no cólon. Julgado curado, no ano seguinte foi acometido de fortes dores no pescoço e no ombro, quando filmava em Inglaterra, e descobriu que a doença se havia se espalhado para os pulmões e os ossos. Não fez qualquer tratamento específico e faleceu pouco depois, aos 60 anos de idade. Encontra-se sepultado em Sacred Hearts of Jesus & Mary R.C. Cemetery, no Condado de Suffolk, Nova Iorque EUA. 

Filmografia / no cinema (principais filmes): 1923: The Last Hour, de Edward Sloman; 1925: The Eagle (A Águia Negra), de Clarence Brown; 1926: The Winning of Barbara Worth (A Flor do Deserto), de Henry King; 1927: Wings (Asas), de William A. Wellman; 1928: The Legion of the Condemned (A Legião dos Condenados) de William A. Wellman ; 1929: The Virginian, de Victor Fleming; 1930: Morocco (Marrocos), de Josef von Sternberg; 1931: Fighting Caravans (Os Civilizadores), de Otto Brower e David Burton; City Streets (Ruas da Cidade), de Rouben Mamoulian; 1932: If I Had a Million (Se Eu Tivesse Um Milhão), de Ernst Lubitsch e Norman Z. McLeod; A Farewell to Arms (O Adeus às Armas), de Frank Borzage; 1933: Today We Live (A Vida é o Dia de Hoje), de Howard Hawks; Alice in Wonderland (Alice no País das Fadas), de Norman Z. McLeod; Design for Living (Uma Mulher para Dois), de Ernst Lubitsch; 1934: Now and Forever (Sou Tua para Sempre), de Henry Hathaway; 1935: The Lives of a Bengal Lancer (Lanceiros da Índia), de Henry Hathaway; The Wedding Night (Noite de Pecado), de King Vidor; Peter Ibbetson (Sonho Eterno), de Henry Hathaway; 1936: Desire (Desejo), de Frank Borzage; Mr. Deeds Goes To Town (Doido com Juízo), de Frank Capra ; The General Died at Dawn (O General Morreu ao Amanhecer), de Lewis Milestone; The Plainsman (Uma Aventura de Buffalo Bill), de Cecil B. DeMille; 1937: Souls At Sea (Almas em Perigo), de Henry Hathaway; 1938: Blue Beard's Eighth Wife (A Oitava Mulher do Barba Azul), de Ernst Lubitsch; The Adventures of Marco Polo (As Aventuras de Marco Polo), de Archie Mayo; 1939: Beau Geste (Beau Geste), de William A. Wellman; The Real Glory (A Verdadeira Glória), de Henry Hathaway; 1940: The Westerner (A Última Fronteira), de William Wyler; North West Mounted Police (Os Sete Cavaleiros da Vitória), de Cecil B. DeMille;1941: Meet John Doe (Um João Ninguém), de Frank Capra; Sergeant York (Sargento York), de Howard Hawks; Ball of Fire (Bola de Fogo), de Howard Hawks; 1942: The Pride of the Yankees (O Ídolo), de Sam Wood; 1943: For Whom The Bell Tolls (Por Quem os Sinos Dobram), de Sam Wood; 1944: The Story of Dr. Wassell (Pelo Vale das Sombras), de Cecil B. DeMille; Casanova Brown (O Moderno Casanova), de Sam Wood; 1945: Along Came Jones (Aí Vem Ele), de Stuart Heisler; Saratoga Trunk (Saratoga), de Sam Wood; 1946: Cloak and Dagger (O Grande Segredo), de Fritz Lang; 1947: Unconquered (Inconquistáveis), de Cecil B. DeMille; 1948: Good Sam (O Bom Samaritano), de Leo McCarey; 1949: The Fountainhead (Vontade Indómita), de King Vidor; Task Force (A Última Batalha), de Delmer Daves; 1950: Bright Leaf (Fumos da Ambição), de Michael Curtiz; Dallas (A Paz voltou à Cidade), de Stuart Heisler; 1951: You're in the Navy now (Marinheiros de Água Doce), de Henry Hathaway; It's a Big Country, de Clarence Brown, Don Hartman, John Sturges, Richard Thorpe, Charles Vidor, Don Weis e William A. Wellman; : Distant Drums (As Aventuras do Capitão Wyatt), de Raoul Walsh; 1952: High Noon (O Comboio Apitou Três Vezes), de Fred Zinnemann; Springfield Rifle (Missão Secreta), de André De Toth; 1953: Blowing Wild (Vento Selvagem), de Hugo Fregonese; 1954: Garden of Evil (O Jardim do Diabo), de Henry Hathaway; Vera Cruz (Vera Cruz), de Robert Aldrich; 1955: The Court Martial of Billy Mitchell (Conselho de Guerra), de Otto Preminger; 1956: Friendly Persuasion (Sublime Tentação), de William Wyler; 1957: Love in the Afternoon (Ariane), de Billy Wilder; 1958: Man of the West (O Homem do Oeste), de Anthony Mann; The Hanging Tree (Raízes de Ouro), de Delmer Daves; 1959: They Came To Cordura (Os Heróis de Cordura), de Robert Rossen; The Wreck of the Mary Deare (O Mistério do Navio Abandonado), de Michael Anderson; 1960: The Nacked Edge (O Gume da Navalha), de Michael Anderson.

domingo, 21 de maio de 2017

INTRIGA INTERNACIONAL


INTRIGA INTERNACIONAL (1959)

"North by Northwest” é, definitivamente, um filme de perseguição. Alfred Hitchcok afirmou que, depois de se sentir extenuado com a sua anterior realização, um filme complexo como “Vertigo” (1958), queria a seguir algo muito mais leve, alegre, divertido, e aproveitou o clima de guerra fria que se vivia no mundo para realizar esta obra de espionagem que, todavia, tem tudo que pertence a este mestre, do suspense, é certo, mas mestre sobretudo do cinema mundial.
Se não, vejamos. O falso culpado é o tema central, como central é em quase todas as obras de Hitch.  Um executivo nova-iorquino, Roger Thornhill (Cary Grant), cuja profissão é a publicidade, é tomado por um tal "George Kaplan” que uma agência de espionagem norte-americana inventou para desviar as atenções e tentar iludir Phillip Vandamm (James Mason). Roger Thornhill será capturado pelos homens de mão de Vandamm. Mas consegue fugir. E essa fuga vai levá-lo a Chicago e de Chicago até às famosas estátuas dos rostos dos presidentes dos EUA, esculpidas em rocha, no Mount Rushmore. As peripécias são tantas e tão invulgares que só o talento e o humor de Alfred Hitchcock permitiriam que as mesmas adquirissem alguma credibilidade, pelos menos a suficiente para o espectador torcer pelo protagonista durante duas horas, na sala escura de um cinema (ou, agora, mais prosaicamente, na sua sala de estar, frente ao televisor). Mas a verdade é que Hitch conduz esta cavalgada quilométrica com uma elegância, uma inquietação, uma ironia que nos deliciam.
Mas além do falso culpado, Hitch não passa sem uma loura verdadeira, neste caso Eva Marie Saint que, alguns anos antes (1954), fora premiada com o Oscar de Melhor Actriz pelo seu desempenho em “Há Lodo no Cais”. Ela é Eve Kendall, uma misteriosa mulher que o publicitário em fuga encontra a bordo de um comboio, com quem estabelece uma fulminante relação de empatia (ou mesmo de algo mais) e que se manterá muito misteriosa até se perceber quem ela é, ou quem nós pensávamos que era. Mas, no final, numa cena que o próprio Hitch considera como das mais sexualmente explícitas do seu cinema, o casal, a bordo de um novo comboio, penetra (não esqueçam a palavra!) num túnel que tudo indica ter uma leitura simbólica muito embora o Mestre tenha igualmente declarado que este filme tinha muito pouco simbolismo.


Mas tem e muito. Apesar de ser um aparente divertimento, este é um filme carregado de sugestivas interpretações e de um imprescindível "MacGuffin", uma designação inventada por Hitchcock para designar uma falsa pista, aqui um objecto adquirido num leilão de obras de arte e que contém no seu interior microfilmes com fórmulas secretas que serão desviadas pelos espiões. Mas este é afinal um problema lateral à própria intriga de “North by Northwest”. Todas as obsessões e fantasmas de Hitchcock se encontram bem inseridas nesta obra, muito embora se possa considerar um filme menos denso do que o já citado “Vertigo” (mas haveria dezenas de outros títulos deste cineasta que poderiam igualmente ser citados). Acontece que o ar ligeiro deste thriller só o é na aparência, sendo sobretudo de realçar a angustiante situação de “perseguido por engano” do protagonista que, cada vez que procura solucionar o seu caso, se encontra mais envolvido em suspeitas. Há uma altura em que alguém é assassinado à sua frente e, a partir daí, Roger Thornhill passa igualmente a ser perseguido pela polícia, o que torna ainda mais dramática a sua fuga. Depois, além de um culpado ser falso, quase todos à sua volta também são falsos como judas, aparentando ser o que não são, apesar de alguns serem, não serem e voltarem a ser, o que leva à criação de um universo de permanente dúvida. Um universo em que o protagonista não acredita em ninguém, mas em que ninguém também parece, na realidade, acreditar nele (muito embora muitos saibam que ele fala verdade, mas essa verdade pode não interessar a certos interesses). O mundo torna-se um lugar difícil de habitar, e mesmo numa paisagem quase deserta, numa planície imensa, a imprevisibilidade é permanente, como acontece nessa fabulosa sequência em que Roger Thornhill é chamado a uma cilada e um avião de pulverizar insecticida o tenta abater. 
O filme tem uma belíssima partitura musical de um dos grandes compositores para cinema, Bernard Herrmann, uma magnífica fotografia a cores de Robert Burks, e tudo concorre tecnicamente para o sucesso desta obra que se tornou num dos grandes triunfos da carreira de Hitch. De resto, a interpretação é igualmente extraordinária, não só da parte de Cary Grant, um dos actores de estimação do mestre do suspense, mas igualmente por parte de Eva Marie Saint (Eve Kendall), James Mason, Leo G. Carroll, Josephine Hutchinson ou Martin Landau. 


INTRIGA INTERNACIONAL 
Título original: North by Northwest 
Realização: Alfred Hitchcock (EUA, 1959); Argumento: Ernest Lehman; Produção: Herbert Coleman, Alfred Hitchcock; Música: Bernard Herrmann; Fotografia (cor): Robert Burks; Montagem: George Tomasini; Casting: Leonard Murphy; Design de produção: Robert F.  Boyle; Direcção artística: William A. Horning, Merrill Pye; Decoração: Henry Grace, Frank R. McKelvy; Maquilhagem: Sydney Guilaroff, William Tuttle, Peggy Shannon, Stanley Smith; Guarda-roupa: Harry Kress; Direcção de Produção: Ruby Rosenberg; Assistentes de realização: Robert Saunders, Mickey McCardle, Tim Whelan Jr.;  Departamento de arte: Matty Azzarone, Mentor Huebner;  Som: Franklin Milton; Efeitos especiais: A. Arnold Gillespie;  Efeitos visuais: Cliff , Matthew Yuricich; Companhias de produção: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM); Intérpretes: Cary Grant (Roger O. Thornhill), Eva Marie Saint (Eve Kendall), James Mason (Phillip Vandamm), Jessie Royce (Clara Thornhill), Leo G. Carroll (o Professor), Josephine Hutchinson (Mrs. Townsend), Philip Ober (Lester Townsend), Martin Landau (Leonard), Adam Williams (Valerian), Edward Platt (Victor Larrabee), Robert Ellenstein (Licht), Les Tremayn, Philip Coolidge, Patrick McVey, Edward Binns, Ken Lynch, Stanley Adams, Andy Albin, Ernest Anderson, Sam Bagley, Baynes Barron, Steve Carruthers, David A. Cox, Walter Coy, Patricia Cutts, Tommy Farrell, Bess Flowers, Sally Fraser, Tom Greenway, Alfred Hitchcock homem a perder o autocarro),  Stuart Holmes, Bobby Johnson, Sid Kane, Kenner G. Kemp, Madge Kennedy, Doreen Lang, Larry Leverett, Frank Marlowe, Nora Marlowe, Maura McGiveney, Henry O'Neill, Murray Pollack,  Maudie Prickett, Ralph Reed Cosmo Sardo, Harvey Stephens, Frank Wilcox, etc. Duração: 135 minutos; Distribuição em Portugal: M.G.M.; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 8 de Março de 1960.


CARY GRANT (1904 - 1986) 
Archibald Alexander Leach, mais conhecido por Cary Grant, nasceu a 18 de Janeiro de 1904, em Horfield, Bristol, Inglaterra, e viria a falecer a 29 de Novembro de 1986, em Davenport, Iowa, EUA, aos 82 anos, vítima de uma hemorragia cerebral. Casado com Virginia Cherrill (1934 - 1935), Barbara Hutton (1942 - 1945), Betsy Drake (1949 - 1962), Dyan Cannon (1965 - 1968) e Barbara Harris (1981 - 1986). Conta-se que a mãe de Archibald, quando este era ainda muito miúdo, o vestia como uma menina, o que terá tido algum efeito perturbador na sua personalidade. O pai, por seu turno, levou-o, aos seis anos, a assistir a um espectáculo de pantomima que ele adorou. O produtor, Robert Lomas, precisando de mais uma criança para o seu show, contratou Archibald, que partiu em tournée para Berlim. Aí, um empresário americano, Jesse Lasky, levou-os, a bordo do Lusitânia, com destino à Broadway. Regressou depois a Bristol, e aos estudos. Aos nove anos, passou a viver apenas com o pai pois a mãe dera entrada num hospício. Aos treze, deixa a escola, falsifica a assinatura do pai, e entra para a companhia do comediante Bob Pender. Por dois anos apresentou-se em diversas cidades da Inglaterra até que, em Julho de 1920, com 16 anos, foi um dos escolhidos por Pender para uma nova tournée, esta de dois anos, pelos Estados Unidos. Archibald não voltaria a Inglaterra. Trabalhou como arrumador de cinema, vendeu gravatas e interpretou números de variedades. Depois viajou para Hollywood, onde a sua elegância e porte chamaram a atenção de Ben Schulberg, da Paramount, onde mudou de nome, passando a "Cary Grant". A estreia no cinema aconteceu em 1932, num musical medíocre, “Esposa Improvisada”, mas rapidamente lhe surgiu uma boa oportunidade, para trabalhar sob as ordens de Josef von Stenberg, ao lado de Marlene Dietrich, em “Vénus Loira”. Mas só em 1935, com “Sylvia Scarlett”, ombreando com Katharine Hepburn, adquiriu o estrelato, onde se manteve até final da vida, sendo considerado um dos maiores comediantes de sempre. Sucederam-se êxitos como “Bringing Up Baby” (1938), “Gunga Din” (1939), “His Girl Friday” (1940), “The Philadelphia Story” (1940), “Suspicion” (1941), “Arsenic and Old Lace” (1944). Em 1933, conheceu o actor Randolph Scott, o qual, segundo se sabia, era amante do milionário Howard Hughes. Mas a atracção entre ambos foi imediata e recíproca, e os dois passaram a ter uma longa e polémica relação homossexual, já que Scott se mudou para o apartamento de Grant. Os estúdios obrigaram-nos a morar em casas separadas e, face às pressões impostas, Grant nunca chegou a assumir publicamente que este teria sido o grande amor da sua vida. No ano seguinte, foi “obrigado” a casar com a actriz Virginia Cherrill, mas o embuste ainda chamou mais a atenção, dado que Cary Grant, pouco depois, tentou o suicídio. Divorciado, voltou a morar com Randolph Scott. Em 1941, durante a II Guerra Mundial, tornou-se cidadão norte-americano, e, a 8 de Julho de 1942, casou-se com a milionária Barbara Hutton, de quem se divorciou três anos mais tarde. As décadas de 40 e 50 foram pródigas em grandes sucessos, como “Notorious” (1946), de Alfred Hitchcock, ao lado de Ingrid Bergman no filme de Alfred Hitchcock, a que se seguiram “The Bishop's Wife” (1947), “To Catch a Thief” (1955), “An Affair to Remember” (1957), “Indiscreet” (1958), ou “North by Northwest”. Com “Penny Serenade” (1941), e “None but the Lonely Heart” (1944) foi nomeado para o Oscar de Melhor Actor, que nunca conquistou. Mas em 1970, a Academia conferiu-lhe um Oscar honorário pelo conjunto da sua obra. Em 1957, casado com a actriz Betsy Drake, apaixonou-se perdidamente por Sophia Loren, mas esta, comprometida com o produtor italiano Carlo Ponti, não lhe correspondeu. Casa-se depois com a actriz Dyan Cannon, de quem também se divorciou, para voltar a casar, em 1981, com a actriz Barbara Harris. Alfred Hitchcock, Leo McCarey e Howard Hawks, foram realizadores que sempre o preferiram e conta-se que o escritor inglês Ian Fleming se baseou na sua figura, elegância e maneiras para criar a personagem de James Bond, 007. Chegou a receber um convite para encarnar a figura, o que recusou, vindo o mesmo a ser desempenhado por Sean Connery. Em 1966, depois do seu trabalho em “Walk, Don't Run”, terminou a sua carreira, pois se considerava fora dos estereótipos do galã, e nunca aceitaria trabalhar como actor secundário. No inquérito promovido pelo American Film Institute para encontrar as Grandes Lendas do Cinema, figura em 2º lugar, e foi votado o 6º maior actor da História do Cinema pela revista Entertainment Weekly. Na lista das 100 Maiores Histórias de Amor do Cinema, publicada pelo American Film Institute, e organizada em 2002, Gary Grant figura por seis vezes: “O Grande Amor da Minha Vida” (1957), em 5º lugar, “Casamento Escandaloso” (1940), “Com a Verdade Me Enganas (1937), em 77º, e “Difamação” (1946), em 87º. Cary Grant quase morreu no palco, pois teve uma hemorragia cerebral fulminante, aos 82 anos, ao sair do Teatro Adler, em Davenport, Iowa, onde ensaiava um espectáculo "An Evening With Cary Grant". Morreu poucas horas depois e o corpo seria levado para Los Angeles onde, conforme a sua vontade, foi cremado sem qualquer cerimónia fúnebre. Antes de morrer, avisou a mulher e os filhos “de que depois de morto, coisas horríveis iriam ser ditas a seu respeito”. 


Filmografia / no cinema (principais filmes): 1932: This Is the Night (Esposa Improvisada), de Frank Tuttle Blonde Venus (A Vénus Loira), de Josef von Sternberg; 1933: Alice in Wonderland (Alice no País das Fadas), de Norman Z. McLeod; 1934: Thirty Day Princess (30 Dias Princesa), de Marion Gering; Born to Be Bad (Nascida para o Mal), de Lowell Sherman; 1935: Sylvia Scarlett (Sylvia Scarlett), de George Cukor; 1936: Big Brown Eyes (Aqueles Olhos Negros), de Raoul Walsh; 1937: Topper (O Par Invisível), de Norman Z. McLeod; The Awful Truth (Com a Verdade Me Enganas), de Leo McCarey; 1938: Bringing Up Baby (Duas Feras), de Howard Hawks; Holiday (A Irmã da Minha Noiva), de George Cukor; 1939: Gunga Din (Gunga Din), de George Stevens; Only Angels Have Wings (Paraíso Infernal), de Howard Hawks; In Name Only (Engano Nupcial), de John Cromwell; 1940: His Girl Friday (O Grande Escândalo), de Howard Hawks; My Favorite Wife (A Minha Mulher Favorita), de Garson Kanin;The Howards of Virginia (Paixão da Liberdade), de Frank Lloyd; The Philadelphia Story (Casamento Escandaloso), de George Cukor; 1941: Penny Serenade (A Canção da Saudade), de George Stevens; Suspicion (Suspeita), de Alfred Hitchcock; 1942: The Talk of the Town (O Assunto do Dia), de George Stevens; Once Upon a Honeymoon (Lua Sem Mel), de Leo McCarey; 1943: Mr. Lucky (O Senhor Felizardo), de H.C. Potter; Destination Tokyo (Rumo a Tóquio), de Delmer Daves; 1944: Once Upon a Time (O Eterno Fantasista), de Alexander Hall; 1944: None But the Lonely Heart (O Vagabundo), de Clifford Odets; Arsenic and Old Lace (O Mundo É um Manicómio), de Frank Capra; 1946: Without Reservations (A Viajante Clandestina), de Mervyn LeRoy; Night and Day (Fantasia Dourada), de Michael Curtiz; Notorious (Difamação), de Alfred Hitchcock; 1947: The Bachelor and the Bobby-Soxer (O Solteirão e a Pequena), de Irving Reis; The Bishop's Wife (O Mensageiro do Céu), de Henry Koster; 1948: Mr. Blandings Builds His Dream House (O Lar dos Meus Sonhos), de Henry C. Potter; 1949: I Was a Male War Bride (Fizeram-me Passar por Mulher), de Howard Hawks; 1950: Crisis, de Richard Brooks; 1951: People Will Talk (Falam as Más-Línguas), de Joseph L. Mankiewicz; 1952: Room for One More (Sempre Cabe Mais Um), de Norman Taurog; Monkey Business (A Culpa Foi do Macaco), de Howard Hawks; 1953: Dream Wife (A Esposa Ideal), de Sidney Sheldon; 1955: To Catch a Thief (Ladrão de Casaca), de Alfred Hitchcock; 1957: An Affair to Remember (O Grande Amor da Minha Vida), de Leo McCarey; The Pride and the Passion (Orgulho e Paixão), de Stanley Kramer; Kiss Them for Me (Quatro Dias de Loucura), de Stanley Donen; 1958: Indiscreet (Indiscreto), de Stanley Donen; Houseboat (Quase nos Teus Braços), de Melville Shavelson; 1959: North by Northwest (Intriga Internacional), de Alfred Hitchcock; Operation Petticoat (Manobra de Saias), de Blake Edwards; 1960: The Grass Is Greener (Ele, Ela e o Marido), de Stanley Donen; 1962: That Touch of Mink (Carícias de Luxo), de Delbert Mann; 1963: Charade (Charada), de Stanley Donen; 1964: Father Goose (Grão-Lobo Chama), de Ralph Nelson; 1966: Walk Don't Run (Devagar, não Corra), de Charles Walters. 

domingo, 14 de maio de 2017

ANATOMIA DE UM CRIME

ANATOMIA DE UM CRIME (1959)


“Anatomia de um Crime” (Anatomy of a Murder), de Otto Preminger, baseia-se num romance de Robert Traver, pseudónimo de John D. Voelker More que, sendo juiz na época em que escreveu a obra, a assinou com um nome suposto para assim não comprometer a sua carreira profissional, tanto mais que tinha sido ele o advogado de defesa do caso verídico sobre o qual se baseava a suposta ficção. Parece que o grosso volume de “Anatomy of a Murder” andou de mão em mão entre secretárias de diversos editores, até que um se aventurou a publicá-lo, ganhando com isso um “best seller” de reputação incomparável. Este não foi o único policial tendo como cenário um tribunal. John Donaldson Voelker, algumas vezes sob o pseudónimo de Robert Traver, foi um fecundo escritor, entre início da década de 50 e a de 80: "Danny and the Boys" (1951), "Small Town D.A." (contos, 1954), "Anatomy of a Murder" (1958), "Trout Madness" (contos, 1960), "Hornstein's Boy" (1962), "Anatomy of a Fisherman" (uma não ficção, 1964), "Laughing Whitefish" (1965), "The Jealous Mistress" (1967), "Trout Magic" (contos, 1974) e, finalmente, "People Versus Kirk" (1981).
Nascido a 29 de Junho de 1903, em Ishpeming, no Michigan, EUA, viria a falecer de ataque cardíaco, aos 87 anos, no dia 18 de Março de 1991, em Marquette, no Michigan, onde foi juiz no Supremo Tribunal Estatal, entre 1956 e 1960.
Como já dissemos, o texto baseava-se num caso verídico, ocorrido numa pequena cidade, Big Bay, no Michigan. Relata-se em poucas palavras: no dia 31 de Julho de 1952, o tenente Coleman Peterson, recentemente regressado da Coreia, matara a tiro Mike Chenoweth, dono de um bar, alegadamente por este ter violado a sua mulher, Charlotte. O advogado de defesa, John D. Voelker, alegou insanidade temporária do militar, o que acabaria por o libertar, dado ainda um psiquiatra testemunhar que se tinha curado e não apresentava ameaça de perigo. Parece que, depois de bem defendido por Voelker, e livre de apertos jurídicos, o tenente Coleman Peterson deixou a cidade sem sequer pagar os honorários devidos ao seu advogado.
Neste aspecto, o filme de Otto Preminger, que contratou John D. Voelker como consultor técnico, foi o mais fiel possível, não só ao romance como ao ambiente onde decorreu e às personagens que viveram o drama. Todo o filme foi rodado no Estado do Michigan, na zona de Ishpeming-Marquette, o que permitiu ao realizador uma liberdade de movimentos invulgar, sem a presença de controleiros da produtora. O hotel local serviu de base de apoio, onde havia camarins, salas para a fotografia, a montagem, a maquilhagem, etc. O tribunal e a prisão serviram de cenários naturais, o gabinete do advogado de defesa tinha sido o do próprio Voelker e muitos dos jurados do filme tinham ocupado as mesmas cadeiras no tribunal no desenrolar do julgamento verídico (excepto os que já tinham falecido, obviamente). Preminger pretendia o máximo de autenticidade e conseguia-o. Tudo isto aparece descrito na obra de Richard Griffith, director do New York Museum of Modern Art Film Library, que escreveu um ensaio intitulado precisamente “Anatomy of a Motion Picture”, onde estuda todos estes aspectos da rodagem desta obra no Michigan.

Mas os direitos de adaptação da obra vieram parar às mãos de Otto Preminger somente depois de um complexo processo. Em Outubro de 1957, Voelker estabeleceu um acordo com o dramaturgo John Van Druten, pelo qual este último se encarregaria de escrever uma versão teatral para ser levada à cena na Broadway. Van Druten reteria 60% dos lucros e Voelker 40%, e ambos poderiam vender os direitos para uma versão cinematográfica. O que fizeram a Ray Stark da Seven Arts Productions, acordando numa verba de 100.000 dólares, mais percentagem nos lucros. Van Druten morre em Dezembro desse ano, a peça nunca chega a subir a cena e os direitos de cinema, depois de muitas peripécias, acabam nas mãos de Otto Preminger, em Maio de 1958, um pouco inflacionados, 150.000 dólares. A transacção meteu tribunal e uma sentença favorável a Preminger, que se empenhara totalmente na realização desta obra que se transformaria rapidamente num dos mais invulgares êxitos dos chamados “filmes de tribunal”
Muitos foram os prémios que o filme alcançou (entre eles oito nomeações para os Oscars), mas basta referir uma lista, organizada pelo American Film Institute (AFI), em 2008, depois de consultados 1.500 depoentes da área do cinema, sobre os 10 melhores filmes de todos os tempos, na categoria de “Courtroom Drama” (dramas de tribunal) para se perceber a importância histórica desta obra. A lista é a seguinte: 1. “To Kill a Mockingbird”; 2. “12 Angry Men”, 3. “Kramer vs. Kramer”; 4. “The Verdict”; 5. “A Few Good Men”; 6. “Witness for the Prosecution”; 7. “Anatomy of a Murder”; 8. “In Cold Blood”; 9. “A Cry in the Dark” e 10. “Judgment at Nuremberg”. Pessoalmente, colocá-lo-ia nos três primeiros lugares, e Michael Asimow, professor de Direito da UCLA, afirma mesmo que este é “provavelmente o melhor filme de sempre realizado sobre tribunais” ("probably the finest pure trial movie ever made"). Na classificação da “Internet Movie Database” figura em 19º lugar, entre 807 filmes passados em tribunais.
Contam as crónicas da época que Otto Preminger pensou em vários actores antes de acertar o elenco definitivo. Lana Turner seria inicialmente “Laura Manion”, Richard Widmark esteve previsto para a figura do tenente, mas o mais surpreendente terá sido a escolha do juiz. Inicialmente, fora previsto Spencer Tracy, e depois Burl Ives, para o papel de “Juiz Weaver.” Por impossibilidade de ambos, Preminger virou-se para Joseph N. Welch, um advogado de Boston que tinha representado o governo dos EUA no Exército, no quente período da caça às bruxas levado a cabo pelo senador McCarthy. Joseph N. Welch enfrentou-o destemidamente, chegando a acusá-lo de “não ter um mínimo de decência”, marcando assim o início da queda do temível senador e do macarthismo. A escolha terá sido igualmente uma homenagem a um homem impoluto, que, aliás, conduz de forma magnífica todas as sessões do julgamento. Outra figura carismática que surge no filme, não só como autor de uma envolvente partitura musical, onde o jazz é uma constante, é Duke Ellington, que aparece na qualidade de Pie-Eye, um pianista de bar, tocando lado a lado com James Stewart.


O filme aborda um caso de violação, onde, apesar de toda a discrição com que o tema é sugerido, acabou por criar alguns engulhos junto do “Production Code Administration”, o tão conhecido Código Hays. Depois de várias negociações, durante as quais algumas palavras foram banidas dos diálogos (esperma, penetração, clímax sexual, por exemplo), o filme foi rodado, mas não viu a sua aprovação final facilitada. Coisa que era comum nas obras de Otto Preminger, que foi um dos maiores sabotadores do Código (juntamente com Billy Wilder). A “The National Catholic Legion of Decency” levantou problemas e houve mesmo um estado, Chicago, onde o filme foi inicialmente proibido de exibir pelo “Police Film Censor”, e mais tarde autorizado, depois de uma querela jurídica, com o juiz federal Julius Miner a aprová-lo, depois de não o ter considerado “obsceno.” Mas todos perceberam que “Anatomia de um Crime” continha linguagem “nunca ouvida num filme americano”.
A intriga resume-se no essencial ao seguinte: numa pequena cidade da chamada “Upper Peninsula” de Michigan, o modesto advogado Paul Biegler (James Stewart), parece quase retirado de julgamentos, entretendo-se com a pesca, o piano e a companhia de um velho colega, Parnell McCarthy (Arthur O'Connell), que gosta imoderadamente de whisky. A secretária de Paul Biegler, Maida Rutledge (Eve Arden), vai tomando conta dos recados, sobretudo divórcios e outras irrelevâncias, quando recebe um telefonema inesperado. Laura Manion (Lee Remick), casada com o tenente Frederick "Manny" Manion (Ben Gazzara), recentemente regressado da Coreia, quer ser recebida. Laura é notícia nacional, todos sabem do caso que protagonizou: ao regressar à roulotte onde vive com Frederick, depois de uma noite passada num bar, é agredida e violada por Barney Quill. O marido, sabedor do ocorrido, agarra numa arma dirige-se ao bar e desfere alguns tiros certeiros em Barney, matando-o. Preso, não nega o assassinato, apenas pretende atenuantes para o acto. Laura quer que Paul Biegler o defenda em tribunal. Com um caso mediático entre mãos, este procura a colaboração de Parnell McCarthy, que tenta libertar-se da bebida para recompor as capacidades, e ambos partem para o processo, reunindo elementos.
A única forma de tentar atenuar a sentença, ou mesmo libertar o réu, é invocar insanidade temporária. Um psiquiatra militar está disposto a testemunhar. Mas pela frente vão ter o promotor de justiça local, D.A. (Brooks West), assistido por uma sumidade vinda da grande cidade, Claude Dancer (George C. Scott). Este é um daqueles chamados “dramas de tribunal”, como já foi referido e, portanto, tudo será dirimido com argumentos de ambas as partes, perante um júri de pessoas locais, escolhidas aleatoriamente, e um juiz particularmente cordato, Weaver (Joseph N. Welch), que procura sobretudo fazer ressaltar a verdade.
Acontece que Laura Manion não é santa de colocar no altar, tudo nela sublinha a sensualidade e mesmo a provocação. E os jogos de bastidores intensificam-se. A defesa tenta tornar Laura uma dona de casa que procura divertir-se sem maldade com a pin box do bar, a acusação ataca-a pelo seu lado leviano. Esgrimem-se testemunhos contraditórios e todo o filme prende o espectador com o suspense desta troca de acusações, de inquirições de testemunhas, de revelações surpresa, de testemunhos inesperados. A estrutura do argumento é sólida e magnificamente conduzida, jogando com a investigação da defesa, esclarecendo factos ou obscurecendo outros, em proveito próprio.
Uma realização clássica, superiormente dirigida pelo austríaco Otto Perminger, faz de “Anatomia de um Crime” uma obra ímpar dentro do género, sendo que a fotografia de Sam Leavitt, num fulgurante preto e branco, é magnifica, bem como a banda sonora, onde sobressai a música de jazz de Duke Ellington. A descrição da pequena cidade é primorosa de rigor e autenticidade. Mas, num filme de tribunal, é perfeitamente compreensível que o elenco tenha de ser de altíssima qualidade para impor personagens e prender os espectadores. James Stewart é admirável na composição do discreto mas eficiente Paul Biegler, Lee Remick consegue inebriar na figura da provocadora Laura Manion, Ben Gazzara é secreto e misterioso como convém, Arthur O'Connell dá uma lição de bonomia e controlada truculência, George C. Scott é o impassível e incisivo promotor de justiça, sem piedade nos interrogatórios e nas armas que utiliza. Os restantes mantêm o nível, o resultado é brilhante.
Como se sabe, os mecanismos da justiça norte-americana são muito diferentes dos da Europa ocidental. Nesse aspecto, o filme é a lição para quem quiser perceber essas nuances e descobrir igualmente algumas das regras de ouro por que se rege uma democracia que acredita que pode abeirar-se o mais possível da verdade. É obvio que a realidade nem sempre é como nos é narrada nos romances e nos filmes, mas é sempre bom ver defender as liberdades e os direitos dos cidadãos, mesmo num caso tão tortuoso como este que nos é apresentado, onde um estado de espírito alterado pela cólera e a sede de vingança pode ser considerado uma atenuante para um crime. Será lícito moral e juridicamente? Também nesse aspecto, “Anatomia de um Crime” continua muito actual, ainda que, 50 anos depois, dificilmente o resultado fosse o mesmo.

ANATOMIA DE UM CRIME
Título original: Anatomy of a Murder
Realização: Otto Preminger (EUA, 1959); Argumento: Wendell Mayes, segundo romance de John D. Voelker; Produção: Otto Preminger; Música: Duke Ellington; Fotografia (p/b): Sam Leavitt; Montagem: Louis R. Loeffler; Design de produção: Boris Leven; Maquilhagem: Del Armstrong, Harry Ray, Myrl Stoltz; Direcção de produção: Henry Weinberger; Assistentes de realização: David Silver, Hal W. Polaire, Ray Taylor Jr.; Departamento de arte: Howard Bristol; Genérico: Saul Bass; Som: Jack Solomon; Efeitos especiais: George Harris; Companhias de produção: Carlyle Productions; Intérpretes: James Stewart (Paul Biegler), Lee Remick (Laura Manion), Ben Gazzara (Lt. Frederick Manion), Arthur O'Connell (Parnell Emmett McCarthy), Eve Arden (Maida Rutledge), Kathryn Grant (Mary Pilant), George C. Scott (Claude Dancer), Duke Ellington, Orson Bean, Russ Brown, Murray Hamilton, Brooks West, Ken Lynch, Howard McNear, Alexander Campbell, Ned Wever, Jimmy Conlin, Lloyd Le Vasseur, James Waters, Joseph N. Welch, etc. Duração: 160 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia /Tristar (DVD); Classificação etária: M/12 anos; 

BEN GAZZARA 
(1930-2012)
Ben Gazzara, com o nome de baptismo de Biagio Anthony Gazzara, nasceu em Nova Iorque, a 28 de Agosto de 1930, e viria a falecer em Nova Iorque, a 3 de Fevereiro de 2012, com 81 anos. Filho de imigrantes italianos, Ben nasceu e cresceu em Nova Iorque, tendo frequentado a conhecida Stuyvesant High School, enveredando decididamente pela carreira de actor. Chegou a estudar engenharia eléctrica na City College of New York, mas desistiu, para se matricular no Actor's Studio. Na década de 50, apareceu em vários espectáculos na Broadway, entre os quais “Gata em Telhado de Zinco Quente”, de Tennessee Williams, com encenação de Elia Kazan. Em 1957, estreia-se no cinema, em “The Strange One”. Com uma carreira intensa, no cinema, na televisão e no teatro, Ben Gazzara também dirigiu alguns episódios de séries de TV e um filme de cinema. Muitos foram os seus papeis memoráveis, como “Anatomy of a Murder” (1959), “A Rage to Live” (1965), “Capone” (1975), “Voyage of the Damned” (1976), mas sobretudo os que interpretou sob as ordens do seu amigo John Cassavetes nos anos 70, “Husbands” (1970), “The Killing of a Chinese Bookie” (1976) ou “Opening Night” (1977). Nos anos 80, refiram-se “Saint Jack” e “They All Laughed”, ambos de Peter Bogdanovich. Trabalhou imenso na televisão, começando por “Arrest and Trial” (1963—1964), na rede ABC e culminando em “Run for Your Life” (1965—1968), na NBC. Foi nomeado por três vezes para o Tony de melhor actor de teatro “A Hatful of Rain” (1956), “Hughie & Duet” (1975) e “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” (1977). Em 2003, ganhou o Emmy de Melhor Actor Secundário, no telefilme “Hysterical Blindness”. Três vezes nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Actor de televisão, na série “Run for Your Life”. Durante alguns anos viveu em Itália, tendo uma casa na Umbria. Casado com Louise Erickson (1951 – 1957), Janice Rule (1961 - 1982) e Elke Stuckmann (1982 - 2012). Faleceu em consequência de um cancro no pâncreas, em Fevereiro de 2012.

Filmografia / cinema (principais filmes): 1957: The Strange One (Joko de Paris), de Jack Garfein ; 1959: Anatomy of a Murder (Anatomia de um Crime), de Otto Preminger; 1960: Risate di gioia (O Ladrão Apaixonado), de Mario Monicelli; 1961: The Young Doctors (Jovens Médicos), de Phil Karlson; 1962: La Città Prigioniera (A Cidade Prisioneira), de Joseph Anthony; Convicts 4 (Inferno Na Terra), de Millard Kaufman; 1965: A Rage to Live, de Walter Grauman; 1969: If It's Tuesday, This Must Be Belgium (Estes Turistas Americanos), de Mel Stuart; The Bridge at Remagen (A Ponte de Remagem), de John Guillermin; 1970: King: A filmed record... Montgomery to Memphis, de Joseph L. Mankiewicz e Sidney Lumet (documentário); 1970: Husbands (Maridos), de John Cassavetes; 1972: Afyon Oppio, de Ferdinando Baldi; 1973: The Neptune Factor (Uma Odisseia Submarina), de Donald Petrie; 1975: Capone (Al Capone), de Steve Carver;1976: The Killing of a Chinese Bookie (A Morte de Um Apostador Chinês), de John Cassavetes; Voyage of the Damned (A Viagem dos Malditos), de Stuart Rosenberg; 1978: Opening Night (Noite de Estreia), de John Cassavetes; 1979: Bloodline (Laços de Sangue), de Terence Young; Saint Jack (Noites de Singapura), de Peter Bogdanovich;1981: They All Laughed (Romance em Nova Iorque), de Peter Bogdanovich; Storie di ordinaria follia (Contos da Loucura Normal), de Marco Ferreri; 1983: La Ragazza di Trieste (A Rapariga de Trieste), de Pasquale Festa Campanile; 1985: Il Camorrista (O Professor), de Giuseppe Tornatore; 1987: Il Giorno prima, de Giuliano Montaldo; 1990: Beyond the Ocean, de Ben Gazzara; 1991: Per Sempre, de Walter Hugo Khouri; 1996: John Cassavetes: To risk everything to express it all, de Rudolf Mestdagh (documentário); 1997: The Spanish Prisoner (O Prisioneiro Espanhol), de David Mamet; 1998: Buffalo '66 (Buffalo '66), de Vincent Gallo; The Big Lebowski (O Grande Lebowski), de Joel Coen; Happiness (Felicidade), de Todd Solondz; Illuminata, de John Turturro; 1999: Summer of Sam (Verão Escaldante), de Spike Lee; The Thomas Crown Affair (O Caso Thomas Crown), de John McTiernan; 2000: Blue Moonk de John A. Gallagher; 2001: Broadway: The golden age, by the legends who were there, de Rick McKay (documentário); 2002: Schubert, de Jorge Castillo; 2003: Dogville (Dogville), de Lars von Trier ; Dogville confessions, de Sami Saif (documentário) ; 2004: Quiet Flows the Don, de Serge Bondartchouk; 2005: Paris je t'aime - episódio "Quartier latin", de Gérard Depardieu e Frédéric Auburtin ; 2008: Looking for Palladin, de Andrzej Krakowski.