ESCÂNDALO
NA TV (1976)
15 de Julho de
1974, Saratoga, na Florida (EUA), 9 e 38: Chris Chubbuck, de 30 anos de idade,
jornalista do programa televisivo “Suncoast Digest”, da estação regional
WXlT-TV, dirige-se aos telespectadores: “De acordo com a política adoptada pelo
nosso canal, que todas as manhãs leva a cada casa, a cores, a vossa dose de
sangue e de violência, vão ter, agora, o privilégio de assistir a uma
extraordinária primeira-mão: uma tentativa de suicídio em directo”. Chris
Chubbuck tira um revólver da sua mala, as câmaras focam-no em grande plano e
ele apoia o cano da arma na têmpora direita. E, logo a seguir, dispara.
Este
acontecimento realmente incrível, é autêntico. E terá influenciado o
argumentista Paddy Chayefsky e o realizador Sidney Lumet na concretização de
“Escândalo na TV” (Network), que pode ser considerado o primeiro grande filme
de sátira eficaz e mesmo feroz às práticas, por vezes verdadeiramente atrozes,
muitas vezes acintosamente impiedosas, que se exercitam no mundo das televisões
norte-americanas. “Network” pode dizer-se, assim, sem receio de desmentidos,
que oscila briosamente entre a realidade e a ficção. E com isto, pareceria estar
tudo dito. Mas não.
Quais os
mecanismos verdadeiros, ou laboriosamente arquitetados, que se encontram por
detrás do pequeno ecrã?
Um apresentador
de televisão que começa por dar as suas opiniões sobre o mundo e acaba por ser
considerado uma espécie de novo Messias, é o início de “Network”. Mas depois há
todo o mecanismo comercial e concorrencial das grandes cadeias de televisão que
não hesitam perante nada para manterem os “picos” de audiência e as boas graças
dos anunciantes. Este retrato implacável de um início manipulador como poucos é
admiravelmente dado pela figura de Faye Dunaway, de uma frieza de comportamento
e de um calculismo sem contemplações O que recoloca a questão: quais os
interesses que mobilizam certos meios de comunicação social?
Os
telespectadores são, as mais das vezes, ultrapassados por esta e outras
perguntas para as quais as respostas são quase sempre demasiado vagas,
inconsequentes até. O pequeno-grande mundo da televisão torna-se numa máquina
trituradora do cidadão que, mais ou menos interessado, mais ou menos paciente,
se “alimenta” do que o aparelho mágico lhe faz entrar em casa, sem autorização
prévia. Chamam a isto o sortilégio do botão. Um simples clique, e eis-nos
titulares do poder total e omnipresente.
Cria-se, deste modo, um clima generalizado de
intensa vivência do que acontece um pouco por todo o Mundo, e que leva a
alucinação quotidiano, ferozmente competitiva, à paranóia colectiva. Faye
Dunaway, Peter Finch, William Holden, Robert Duvall, Ned Beatty, John Carpenter
(esse mesmo, o realizador), Beatrice Straigh entre outros, esforçam-se por
transmitir para a pantalha cinematográfica o que se afigura passar nos
bastidores do ecrã televisivo.
Poder-se-á,
assim, referir que se organiza com este “Network” um processo de intenções
sobre o que já se convencionou chamar a loucura da televisão, ou mesmo a
hecatombe televisiva. Em sentido contrário são as opiniões dos que referem ser
apenas a afirmação de mais um episódio da luta entre o celuloide
cinematográfico e o vídeo televisivo. E neste combate todas as armas são
utilizadas, embora nem todas devessem ser permitidas...
Tanto Paddy Chayefsky
como Sidney Lumet estavam perfeitamente à vontade neste particular. Rotinados
ambos no trabalho televisivo, habituados às limitações de espaço e de concepção
do pequeno écran, eram, na altura,
homens mais dos indicados para passarem aos planos mais ambiciosos da
tão cantada e recantada, Sétima Arte. Um, argumentista dos primeiros
“dramáticos” da televisão americana, o outro tornado conhecido por ser o
principal realizador dos “directos” televisivos dos anos 50. Não terá sido o
acaso, muito longe disso, que os reuniu para concretizarem este “Escândalo na
TV”.
Nos Estados
Unidos, o público reagiu de uma forma notavelmente intensa ao filme. Dele se
disse que era um “sucesso triunfal”, como se referiu que se tratava de “um
produto de consumo e só”. Trata-se, em termos cinematográficos, de um trabalho
que marca uma época e condiciona mentalidades. Quanto mais não fosse, por isso
mesmo já seria importante. Chayefsky comentava, com uma candura
indesmentivelmente forjada, que tudo o que havia descrito em “Network” “poderia
ter acontecido e acontecerá sem dúvida. A televisão americana não recua perante
nada para aumentar a sua audiência”. E a indústria cinematográfica?
O filme é de
1976. De então para cá, a situação agravou-se. Não só nos EUA, como um pouco
por todo o lado. Em Portugal também, por isso “Escândalo na TV” se mostra tão
actual.
ESCÂNDALO NA TV
Título
original: Network
Realização: Sidney Lumet (EUA, 1976); Argumento: Paddy Chayefsky; Produção: Fred C.
Caruso, Howard Gottfried; Música: Elliot Lawrence; Fotografia (cor): Owen
Roizman; Montagem: Alan Heim; Casting: Juliet Taylor; Design de produção:
Philip Rosenberg; Decoração: Edward Stewart; Guarda-roupa: Theoni V. Aldredge;
Maquilhagem: John Alese, Susan Germaine, Lee Harman, Philip Leto; Assistentes
de realização: Alan Hopkins, Ralph S. Singleton; Direcção artística: Connie Brink; Som: Jack
Fitzstephens, Marc Laub, Sanford Rackow, James Sabat, Dick Vorisek; Companhias
de produção: Metro-Goldwyn-Mayer (A Howard Gottfried - Paddy Chayefsky Production),
United Artists; Intérpretes: Faye
Dunaway (Diana Christensen), William Holden (Max
Schumacher), Peter Finch (Howard Beale), Robert Duvall (Frank Hackett), Wesley
Addy (Nelson Chaney), Ned Beatty (Arthur Jensen), Arthur Burghardt (Great Ahmed
Kahn), Bill Burrows (realizador de TV), John Carpenter (George Bosch),
Beatrice Straight (Louise Schumacher), Jordan Charney, Kathy Cronkite, Ed
Crowley, Jerome Dempsey, Conchata Ferrell, Gene Gross, Stanley Grover, Cindy
Grover, Darryl Hickman, Mitchell Jason,,Paul Jenkins, Ken Kercheval, Kenneth
Kimmins, Lynn Klugman, Carolyn Krigbaum, Zane Lasky, Michael Lipton, Michael
Lombard, Pirie MacDonald, Russ Petranto, Bernard Pollock, Roy Poole, William
Prince, Sasha von Scherler, Lane Smith, Ted Sorel, Fred Stuthman, Cameron
Thomas, Marlene Warfield, Lydia Wilen, Lee Richardson, John Chancellor, Walter
Cronkite, Andrew Duncan, Todd Everett,
Betty Ford, Gerald Ford, John Gabriel,
Tom Gibney, Lance Henriksen, Raymond Martino, Howard K. Smith, David
Susskind, Michael Tucker, Ahmed Yamani, etc. Duração: 121 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): MGM;
Classificação etária: M/ 12 anos.
WILLIAM HOLDEN (1918–1981)
William
Holden, ou William Franklin Beedle, Jr., nome de baptismo, nasceu a 17 de Abril
de 1918, em O'Fallon, Illinois, EUA, e viria a falecer a 12 de Novembro de
1981, aos 63 anos, em Santa Mónica, Califórnia, EUA. Filho de William Franklin
Beedle, um químico industrial, e de Mary Blanche Ball, uma professora, aos três
anos de idade transferiu-se a família para Pasadena, na Califórnia, onde ainda
estudante começou a trabalhar como actor, integrado no Pasadena Junior College,
até ser descoberto, em 1937, por um caçador de talentos da Paramount que lhe
trouxe o seu primeiro contrato, iniciando a carreira como figurante e actor
secundário, até atingir o estrelato, regressado do serviço militar, onde serviu
durante a Segunda Guerra Mundial, voltando da guerra como tenente. Foi em
“Stalag 17”, de Billy Wilder, que conquistou o Oscar como Melhor Actor,
prosseguindo uma carreira cheia de grandes papéis em filmes inesquecíveis, como
“Sunset Boulevard”, de Billy Wilder, “Born Yesterday”, de George Cukor, “The
Moon Is Blue”, de Otto Preminger, “Escape from Fort Bravo”, de John Sturges,
“Sabrina”, de Billy Wilder, “The Country Girl”, de George Seaton, “The Bridges
at Toko-Ri”, de Mark Robson, “Love Is a Many-Splendored Thing”, de Henry King,
“Picnic”, de Joshua Logan, “The Bridge on The River Kwai”, de David Lean, “The
Key”, de Carol Reed, “Paris When it Sizzles”, de Richard Quine, “The Wild
Bunch, de Sam Peckinpah, ou “Wild Rovers (Vagabundos Selvagens), de Blake
Edwards, entre alguns mais. Para lá do Oscar que ganhou, foi ainda nomeado por
duas outras ocasiões: por “Sunset Boulevard” (1951) e “Network” (1977). Morou
em Genebra, na Suíça, e passou muito tempo em África, onde possuía o “Mount
Kenya Safari Club”. Foi casado com a actriz Brenda Marshall durante vinte anos
(1941-1971). Nos últimos anos de vida viajou em missões ecológicas e culturais,
acompanhado da actriz Stefanie Powers. Dado ao álcool, haveria de falecer de
forma estranha, após uma queda a que não deu importância. Foi encontrado morto
em seu apartamento, a 15 de Novembro de 1981. O corpo foi cremado e suas cinzas
espalhadas no Oceano Pacífico. Possui uma estrela no "Passeio da
Fama", em Hollywood.
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