sábado, 31 de dezembro de 2016

O OFICIO DE MATAR


O OFÍCIO DE MATAR (1967)

O código de honra dos samurais japoneses, conhecido por “bushidô”, continua a ser respeitado e admirado no Japão, mas influenciou igualmente muitas obras de arte ocidentais, nomeadamente no cinema, onde se destaca precisamente este “Le Samurai”, do francês Jean-Pierre Melville, interpretado por Alain Delon, numa das melhores criações da sua longa filmografia.
Miyamoto Musashi, que, além de ser considerado um dos maiores samurais de sempre (senão mesmo o maior), escreveu ainda um tratado de guerra e de conduta moral,O Livro dos Cinco Anéis”, disse um dia: “Os homens devem moldar o seu caminho. A partir do momento em que alguém vir o caminho em tudo o que fizer, esse alguém tornar-se-á o caminho.” O samurai, para lá da coragem e heroísmo das suas acções, da força e do rigor da sua disciplina, seguia um código rígido de conduta, o bushidô ou “O Caminho do Guerreiro”, um conjunto de regras que para o samurai tinham mais força do que as próprias leis do estado. Para quem seguia o bushidô, o objetivo da vida era uma morte honrosa. Um dos seus principais preceitos era saber que “o verdadeiro samurai só tem um juiz da sua honra: ele mesmo. As escolhas que fizer e como fizer para as obter são um reflexo de quem realmente se é”.
Tudo isto a propósito de “Le Samurai”, filme, que tem como protagonista Jef Costello (Alain Delon), um assassino contratado que executa as encomendas com o maior pragmatismo e frieza. Não há qualquer tipo de sentimento ou emoção no trabalho que efectua. Vive na maior solidão. “Não há mais profunda solidão que a do samurai, a não ser talvez a do tigre na selva”, volta-se a citar um pensamento de samurai, precisamente a frase com que se inicia o filme de Jean-Pierre Melville.  Jef é contratado para matar o dono de um cabaret. Acaba preso, a policia incluiu-o num grupo de suspeitos. Algumas testemunhas, porém, não conseguem (ou não querem) identifica-lo como o autor dos disparos. É posto em liberdade, mas agora vive acossado pela polícia, que continua desconfiada, e pelos mandantes do assassinato, que o julgam perigoso. Assim se descobre na solidão mais completa, assim se encontra o caminho para um final honroso.
Jean-Pierre Melville (1917–1973) é um cineasta singular, autor de uma obra inclassificável. Começou a sua filmografia em finais da década de 40, com a adaptação do romance de Vercors, “Le silence de la mer” (1949), continuando com Jean Cocteau, “Les enfants terribles” (1950) e depois “Quando Leres Esta Carta” (1953). A partir de 1956, com “Bob le flambeur”, entra no universo do gangsterismo, que prolongará em “Dois Homens em Manhattan” (1959). Por essa época, a Nouvelle Vague irrompia pelo cinema francês, destruindo tudo o que ficava para trás, com algumas excepções: Renoir, Vigo, Breson, Tati, Melville. Este tornou-se não um elemento da Nouvelle Vague (nunca pretendeu estar associado a qualquer movimento, ele era também um solitário, com um caminho próprio a percorrer), mas um companheiro de caminho dos jovens da renovação da cinematografia francesa. Aparece como actor nalguns dos filmes mais marcantes desse movimento, como “O Acossado”, de Godard, “Le Signe du Lion”, de Éric Rohmer, “O Duelo na Ilha”, de Alain Cavalier, ou “Landru”, de Claude Chabrol. A sua obra extremamente pessoal prossegue com “Amor Proibido”, incursão pelo universo do clero, para depois se centrar no policial a rondar o filme negro: “O Denunciante”, “Um Homem de Confiança” (ambos de 1963), “O Segundo Fôlego” (1966), “Ofício de Matar” (1967), “O Exército das Sombras” (1969), “O Círculo Vermelho” (1970) e, finalmente, “Cai a Noite Sobre a Cidade” (1972).


“Ofício de Matar” é uma obra extremamente coerente na sua construção narrativa e na sua concepção estética. Desde logo, a cor escolhida, um cinzento esverdeado, distante e frio, que pode relembrar a sela do tigre solitário. Depois, a arquitectura escolhida como cenário vai no mesmo sentido, quer se trate do quarto de Jef, das vielas onde troca de matrícula do carro, e dos ambientes mais sofisticados de bares e habitações de luxo. Em todos o mesmo desconforto, a mesma aridez. O tipo de representação que se escolheu indica igualmente essa intenção. Alain Delon ostenta um rosto impassível, um olhar glacial, um comportamento minucioso. Um gesto de alguma emoção apenas para com o pássaro da gaiola que guarda no quarto, ou para com a namorada, Jane Lagrange (na verdade a mulher de Delon, Nathalie Delon), ou a pianista de cabaret (Cathy Rosier). Mas se há alguma emoção no olhar em certas cenas, logo sobrevem a secura do comportamento e o despojamento dos sentimentos.
Jean-Pierre Melville domina completamente os meios utilizados e escolhe os melhores para cumprir o seu destino de samurai. Melville era um cinéfilo apaixonado. Para ele, fazer cinema era um acto de amor. E amava perdidamente o cinema norte-americano dos anos 40 e 50, sobretudo o filme negro que aqui tão bem homenageia, criando, todavia, um estilo muito próprio. Personagens e situações para Melville são arquétipos, símbolos, num cenário não realista, estilizado, quase abstrato. Assim construiu “Le Samurai”, que muitos estudiosos do seu cinema consideram uma obra-prima e o primeiro sinal do amadurecimento total do seu estilo que depois continuaria em títulos como “O Exército das Sombras” ou “O Círculo Vermelho”.



O OFÍCIO DE MATAR
Título original: Le samouraï
Realização: Jean-Pierre Melville (França, Itália, 1967); Argumento: Jean-Pierre Melville, Georges Pellegrin, segundo romance de Joan McLeod ("The Ronin"); Produção: Raymond Borderie, Eugène Lépicier; Música: François de Roubaix; Fotografia (cor): Henri Decaë; Montagem: Monique Bonnot, Yolande Maurette; Design de produção: François de Lamothe; Decoração: François de Lamothe; Direcção de Produção: Georges Casati; Assistentes de realização: Georges Pellegrin; Departamento de arte: André Boumedil, Robert Christidès, Angelo Rizzi; Som: René Longuet, Robert Pouret, Alex Pront; Companhias de produção: Compagnie Industrielle et Commerciale Cinématographique (CICC), Fida Cinematografica, Filmel, TC Productions; Intérpretes: Alain Delon (Jef Costello), François Périer (Comissário da policia), Nathalie Delon (Jane Lagrange), Cathy Rosier (pianista), Jacques Leroy (o homem na passerelle), Michel Boisrond (Wiener), Robert Favart (barman), Jean-Pierre Posier (Olivier Rey), Catherine Jourdan, Roger Fradet, Carlo Nell, Robert Rondo, André Salgues, André Thorent, Jacques Deschamps, Georges Casati, Jacques Léonard, Pierre Vaudier, Maurice Magalon, Gaston Meunier, Jean Gold, Georges Billy, Ari Aricardi, Guy Bonnafoux, Humberto Catalano, Carl Lechner, Maria Maneva, etc. Duração: 105 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Cine Digital; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 3 de Novembro de 1968.            

ALAIN DELON (1935- )
Alain Delon nasceu em Sceaux, na Borgonha, próximo de Paris. Aos quatro anos, viu os pais, Edith e Fabian, divorciarem-se. Foi então adoptado por um casal, que pouco depois seria assassinado. Volta para junto da mãe, entretanto já casada com outro homem, e enfrenta uma infância problemática, com expulsões de várias escolas. Aos 15 anos deixa de estudar e, dois anos depois, alista-se na marinha francesa, indo lutar na Indochina. Em 1956, regressa a Paris, sem posses, arranja vários empregos, porteiro, garçon, vendedor. Vizinho da cantora Dalida, tornam-se grandes amigos. Em 1957, no Festival de Cannes, onde foi com o amigo Jean-Claude Brialy, chama a atenção do produtor David O. Selznick, que lhe ofereceu um contrato, mas tem de aprender a falar inglês. Entretanto conhece o realizador Yves Allégret, que o convenceu a começar sua carreira na França. Em 1957 interpreta o seu primeiro filme, “Quand la Femme s'en Mele”. Em “Christine” conhece  Romy Schneider, e ambos se apaixonam. Em 1959, foram morar juntos, relacionamento que durou cinco anos.
O seu primeiro grande papel no cinema foi em “Plein Soleil”, de René Clément (1959), que lhe abre as portas para o sucesso. Seguem-se vários títulos importantes, “Rocco e Seus Irmãos” (1960), de Luchino Visconti, com quem volta a trabalhar em “O Leopardo” (1963). Delon é, por essa altura, um sex symbol do cinema europeu, mas igualmente um actor reconhecido, que trabalha com grandes cineastas, como Michelangelo Antonioni, em “O Eclipse”, Jean-Pierre Melville, em “Le Samouraï” (1967), “O Círculo Vermelho” (1970) e “Cai a Noite Sobre a Cidade” (Un flic, 1971), Valerio Zurlini, em “Outono Escaldante” (1972), Joseph Losey, em “O Assassinato de Trotsky” (1972) e” Mr. Klein” (1976) ou Jean-Luc Godard, em “Nouvelle Vague” (1990). Interpretou mais de uma centena de títulos, e afastou-se do cinema, em finais dos anos 90. Apenas surgiu num ou outro trabalho de TV.

Em 1964, casou-se com a atriz Nathalie Delon, e separaram-se em 1969. Depois teve um longo relacionamento com a actriz Mireille Darc. Durante o período em que estava casado com Nathalie, ocorreu um escândalo. Em 1968, um dos seus guarda-costas, Stevan Markovic, foi assassinado e Delon viu-se envolvido no caso. Em 1987 conhece a modelo holandesa Rosalie Van Bremen, e passam a viver juntos. Separam-se em 2001 e Delon conhece um período de depressão que o leva a considerar o suicídio. Em 2012 sofreu um AVC.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O ACTOR: PROGRAMAÇÃO 2017


MASTERCLASS SOBRE HISTÓRIA DE CINEMA

O TRABALHO DE ACTOR

Depois da masterclass “A Actriz, Arte e Sedução”, que aqui foi apresentada há dois anos, com assinalável sucesso, é chegada a altura de dar voz e presença ao Actor. Obviamente que, quando se falou da Actriz, esta tinha sempre atrás de si (ou ao seu lado), actores que não lhes ficavam a dever nada. O mesmo irá acontecer neste novo ciclo, onde magníficas actrizes irão desfilar e dar réplica a essa plêiade de grandes actores de todo o mundo (com óbvia maioria norte-americana) que seleccionámos com a intenção única de demonstrar a grandeza desta arte e dos seus mais completos representantes. Torna-se evidente que, de cada actor, procurámos escolher um título representativo do seu trabalho, de um período particularmente significativo e rico da sua filmografia.
Claro que a cinematografia mais representada é a norte-americana, com obras onde se pode ver e admirar o trabalho de actores como Paul Muni, Walter Pidgeon, Robert Mitchum, Kirk Douglas, Orson Welles, James Cagney, Humphrey Bogart, Alan Ladd, Van Heflin, James Dean, Glenn Ford, Ernest Borgnine, Rod Steiger, Yul Brynner, James Stewart, Spencer Tracy, Ben Gazzara, Cary Grant, James Mason, Gary Cooper, Van Heflin, Charlton Heston, Jack Hawkins, Clark Gable, Montgomery Clift, Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Sterling Hayde, John Cazale, Warren Beatty, Burt Lancaster, Richard Widmark, John Wayne, Henry Fonda, Gregory Peck, Steve McQueen, Edward G. Robinson, William Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Peter Falk, John Cassavetes, Jack Nicholson, Robert De Niro, Peter Finch, Dustin Hoffman, Robert Redford, Jack Warden, Paul Newman, Harrison Ford, Matthew Broderick, Denzel Washington, Cary Elwes, Robin Williams, Ethan Hawke, Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, Tom Hanks, Denzel Washington, Tim Robbins, Tom Cruise, Jason Robards, mesmo actores ingleses, como Laurence Olivier, Peter O'Toole, Richard Burton, Michael Caine, Albert Finney, Tom Courtenay, Edward Fox, Jeremy Irons, Sean Connery, ou australianos, bastando para tanto citar Mel Gibson. Mas há outras cinematografias representadas, como a francesa, onde sobressaem nomes como os de Jean Gabin, Gérard Philipe, Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Jacques Tati, Philippe Noiret ou Gérard Depardieu, a sueca, com a presença de Gunnar Björnstrand e Max von Sydow, a japonesa, com a referência obrigatória a Toshirô Mifune, a italiana, onde se citam como exemplos Alberto Sordi, Vittorio Gassman e Marcello Mastroianni, ou a espanhola (Fernando Rey e Javier Bardem).
Com grande mágoa para quem seleciona os actores aqui representados, há muitos e muitos outros que não constam da lista atrás elaborada. Muitos têm sido suficientemente vistos em anteriores masterclasses, de outros não existem cópias em DVD, com legendas, de filmes significativos, e alguns tiveram mesmo de ser riscados para permitir uma masterclass de um ano e não de uma década. Mas cremos que a selecção final dá uma boa imagem do trabalho de actor, desde a década de 30 até finais do século XX (optou-se igualmente por excluir títulos mais recentes por se encontrarem bem presentes na memória do público).
O actor joga-se em múltiplos registos, em escolas e estilos diversificados, há os instintivos e os que necessitam de longos ensaios, os que precisam da liberdade do improviso, os que assumem as marcações mais rígidas, os que se manifestam essencialmente pela palavra, os que trabalham o corpo, os mais estáticos e os que actuam em movimento… e há os realizadores que captam o melhor de cada um, por vezes em filmes que reúnem actores das mais diversificadas origens. Essa uma das magias do cinema, essa uma das razões de ser de mais esta masterclass. Esperemos que o ano de 2017 seja mais uma temporada de profundo deleite artístico e intelectual, bem como de prazer e saudável entretenimentos para os assíduos acompanhantes destas masterclasses.

Lauro António
O ACTOR
Programação prevista

10 de Janeiro de 2017
O PADRINHO (The Godfather), de Francis Ford Coppola (EUA, 1972); com Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Sterling Hayde, Diane Keaton, John Cazale, etc. 175 min; M/ 18 anos. 
17 de Janeiro de 2017
O SÉTIMO SELO (Det Sjunde Inseglet), de Ingmar Bergman (Suécia, 1957); com Gunnar Björnstrand, Max von Sydow, Bibi Andersson, etc. 96 m; M / 12 anos.
24 de Janeiro de 2017
O OFÍCIO DE MATAR (Le Samouraï), de Jean-Pierre Melville (França, 1967), com Alain Delon, Nathalie Delon, François Périer, etc. 105 min; M/ 12 anos.
31 de Janeiro de 2017
OS SETE SAMURAIS (Shichinin no samurai), de Akira Kurosawa (Japão,1954), com Toshirô Mifune, Takashi Shimura, Keiko Tsushima, etc. 207 min; M/ 12 anos.
7 de Fevereiro de 2017
SCARFACE, O HOMEM DA CICATRIZ (Scarface), de Howard Hawks e Richard Rosson (EUA, 1932), com Paul Muni, Ann Dvorak, Karen Morley, etc. 93 min; M/ 12 anos.
14 de Fevereiro de 2017
FOI UMA MULHER QUE O PERDEU (Le Jour se Lève), de Marcel Carné (França, 1939); com Jean Gabin, Jacqueline Laurent, Arletty, etc. 93 min; M/ 12 anos.
21 de Fevereiro de 2017
O VALE ERA VERDE (How Green Was My Valley), de John Ford (EUA, 1941), com Walter Pidgeon, Maureen O'Hara, Anna Lee, etc. 118 min; M/ 12 anos.
28 de Fevereiro de 2017
O ARREPENDIDO (Out of the Past), de Jacques Tourneur (EUA,1947), com Robert Mitchum, Jane Greer, Kirk Douglas, etc. 97 min; M/ 12 anos.
7 de Março de 2017
MACBETH (Macbeth), de Orson Welles (EUA, 1948), com Orson Welles, Jeanette Nolan, Dan O'Herlihy, etc. 92 min; M/ 12 anos.
14 de Março de 2017
FÚRIA SANGUINÁRIA (White Heat), de Raoul Walsh (EUA, 1949), com James Cagney, Virginia Mayo, Edmond O'Brien, etc. 114 min; M/ 16 anos.
21 de Março de 2017
O VAGABUNDO DE MONTPARNASSE (Les Amants de Montparnasse), de Jacques Becker (França, 1958), com Gérard Philipe, Lilli Palmer, Lea Padovan, etc. 108 min; M/ 12 anos.
28 de Março de 2017
A RAÍNHA AFRICANA (The African Queen), de John Huston (EUA, 1951), com Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley, etc. 105 min; M/ 12 anos.
4 de Abril de 2017
SHANE (Shane), de George Stevens (EUA,1953), com Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, etc. 118 min; M/ 12 anos.
11 de Abril de 2017
A LESTE DO PARAÍSO (East of Eden), de Elia Kazan (EUA, 1955), com James Dean, Raymond Massey, Julie Harris, etc. 115 min; M/ 12 anos.
18 de Abril de 2017
JUBAL (Jubal), de Delmer Daves (EUA, 1956), com Glenn Ford, Ernest Borgnine, Rod Steiger, etc. 100 min; M/ 12 anos.
25 de Abril de 2017
O REI E EU (The King and I), de Walter Lang (EUA, 1956), com Yul Brynner, Deborah Kerr, Rita Moreno, etc. 133 min; M/ 12 anos.
2 de Maio de 2017
A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES (Vertigo), de Alfred Hitchcock (EUA, 1958), com James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, etc. 128 min; M/ 12 anos.
9 de Maio de 2017
O ÚLTIMO HURRAH (The Last Hurrah), de John Ford (EUA, 1958), com Spencer Tracy, Jeffrey Hunter, Dianne Foster, etc. 121 min; M/12 anos.
16 de Maio de 2017
ANATOMIA DE UM CRIME (Anatomy of a Murder), de Otto Preminger (EUA, 1959), com James Stewart, Lee Remick, Ben Gazzara, etc. 160 min; M/ 12 anos.
23 de Maio de 2017
INTRIGA INTERNACIONAL (North by Northwest), de Alfred Hitchcock (EUA, 1959), com Stars: Cary Grant, Eva Marie Saint, James Mason, etc. 136 min; M/ 12 anos.
30 de Maio de 2017
OS HERÓIS DE CORDURA (They Came to Cordura), de Robert Rossen (EUA, 1959), com Gary Cooper, Rita Hayworth, Van Heflin, etc. 123 min; M/ 12 anos.
6 de Junho de 2017
BEN-HUR (Ben-Hur), de William Wyler (EUA, 1959), com Charlton Heston, Jack Hawkins, Stephen Boyd, etc. 222 min; M/ 12 anos.
13 de Junho de 2017
A GRANDE GUERRA (La Grande Guerra), de Mario Monicelli (Itália, 1959), com Alberto Sordi, Vittorio Gassman, Silvana Mangano, etc. 137 min; M/ 12 anos.
20 de Junho de 2017
SPARTACUS (Spartacus), de Stanley Kubrick (EUA, 1960), com Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, etc. 248 min; M/ 12 anos.
27 de Junho de 2017
OS INADAPTADOS (The Misfits), de John Huston (EUA, 1961), com Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, etc.124 min; M/ 12 anos.
4 de Julho de 2017
ESPLENDOR NA RELVA (Splendor in the Grass), de Elia Kazan (EUA, 1961), com Natalie Wood, Warren Beatty, Pat Hingle, etc. 124 min; M/ 12 anos.
5 de Julho de 2017
O JULGAMENTO DE NUREMBERGA (Judgment at Nuremberg), de Stanley Kramer (EUA, 1961), com Spencer Tracy, Burt Lancaster, Richard Widmark, etc. 186 min; M/ 12 anos.
11 de Julho de 2017
O HOMEM QUE MATOU LIBERTY VALANCE (The Man Who Shot Liberty Valance), de John Ford (EUA, 1962), com James Stewart, John Wayne, Vera Miles, etc. 123 min; M/ 12 anos.
12 de Julho de 2017
TEMPESTADE SOBRE WASHINGTON (Advise & Consent), de Otto Preminger (EUA, 1962), com Franchot Tone, Lew Ayres, Henry Fonda, etc. 139 min; M/ 12 anos.
18 de Julho de 2017
NA SOMBRA E NO SILÊNCIO (To Kill a Mockingbird), de Robert Mulligan (EUA, 1962), com Gregory Peck, John Megna, Frank Overton, etc. 129 min; M/12 anos.
19 de Julho de 2017
O AVENTUREIRO DE CINCINNATI (The Cincinnati Kid), de Norman Jewison (EUA, 1965), com Steve McQueen, Ann-Margret, Edward G. Robinson, etc. 109 min; M/ 12 anos.
25 de Julho de 2017
PEDRO O LOUCO (Pierrot le fou), de Jean-Luc Godard (França, 1965), com Jean-Paul Belmondo, Anna Karina, Graziella Galvani, etc. 110 min; M/ 12 anos.
26 de Julho de 2017
LORD JIM (Lord Jim), de Richard Brooks (EUA, 1965), de Peter O'Toole, James Mason, Curd Jürgens, etc. 154 min; M/ 12 anos.
1 de Agosto de 2017
QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF? (Who's Afraid of Virginia Woolf?), de Mike Nichols (EUA, 1966); com Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal, etc. 131 min; M/ 17 anos.
2 de Agosto de 2017
PLAY TIME - VIDA MODERNA (Playtime), de Director: Jacques Tati (França, 1967), com Jacques Tati, Barbara Dennek, Rita Maiden, etc. 115 min; M/ 12 anos.
8 de Agosto de 2017
A QUADRILHA SELVAGEM (The Wild Bunch), de Sam Peckinpah (EUA, 1969), com William Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan, etc. 135 min; M/ 12 anos.
9 de Agosto de 2017
MARIDOS (Husbands), de John Cassavetes (EUA, 1970), com Ben Gazzara, Peter Falk, John Cassavetes, etc. 131 min; M/ 12 anos. 
15 de Agosto de 2017
SLEUTH: AUTÓPSIA DE UM CRIME (Sleuth), de Joseph L. Mankiewicz (EUA, Inglaterra, 1972), com Laurence Olivier, Michael Caine, Alec Cawthorne, etc. 138 min; M/ 12 anos.
16 de Agosto de 2017
VOANDO SOBRE UM NINHO DE CUCOS (One Flew Over the Cuckoo's Nest), de Milos Forman (EUA, 1975), com Jack Nicholson, Louise Fletcher, Michael Berryman, etc. 133 min; M/ 16 anos.
22 de Agosto de 2017
TAXI DRIVER (Taxi Driver), de Martin Scorsese (EUA, 1976), com Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepherd, etc. 113 min; M/ 18 anos.
23de Agosto de 2017
ESCÂNDALO NA TV (Network), de Sidney Lumet (EUA, 1976), com Faye Dunaway, William Holden, Peter Finch, etc. 121 min; M/ 12 anos.
29 de Agosto de 2017
OS HOMENS DO PRESIDENTE (All the President's Men), de Alan J. Pakula (EUA, 1976), com Dustin Hoffman, Robert Redford, Jack Warden, etc. 138 min; M/ 12 anos.
30 de Agosto de 2017
ESTE OBSCURO OBJECTO DO DESEJO (Cet obscur objet du désir), de Luis Buñuel (França, 977), com Fernando Rey, Carole Bouquet, Ángela Molina, etc. 102 min; M/ 12 anos.
5 de Setembro de 2017
UM DIA INESQUECÍVEL (Una giornata particolare), de Ettore Scola (Itália, 1977), com Sophia Loren, Marcello Mastroianni, John Vernon, etc. 106 min; M/ 12 anos.
12 de Setembro de 2017
MAD MAX - AS MOTOS DA MORTE (Mad Max), de George Miller (Austrália, 1979), com Mel Gibson, Joanne Samuel, Hugh Keays-Byrne, etc. 88 min; M/ 18 anos.
19 de Setembro de 2017
A CALÚNIA (Absence of Malice), de Sydney Pollack (EUA, 1981), com Paul Newman, Sally Field, Bob Balaban, etc. 116 min; M/ 12 anos.
26 de Setembro de 2017
O COMPANHEIRO (The Dresser), de Peter Yates (Inglaterra, 1983), com Albert Finney, Tom Courtenay, Edward Fox, etc. 118 min; M/ 12 anos.
3 de Outubro de 2017
A TESTEMUNHA (Witness), de Peter Weir (EUA, 1985), com Harrison Ford, Kelly McGillis, Lukas Haas, etc. 112 Min; M/ 12 anos.
10 de Outubro de 2017
O NOME DA ROSA (Der Name der Rose), de Jean-Jacques Annaud (França, Itália, RFA, 1986), com Sean Connery, Christian Slater, Helmut Qualtinger, etc. 130 Min; M/ 12 anos.
17 de Outubro de 2017
CINEMA PARAÍSO (Nuovo Cinema Paradiso), de Giuseppe Tornatore (Itália, 1988), com Philippe Noiret, Enzo Cannavale, Antonella Attili, etc. 155 min; M/ 12 anos.
24 de Outubro de 2017
IRMÃOS INSEPARÁVEIS (Dead Ringers, de David Cronenberg (EUA, Canadá, 1988), com Jeremy Irons, Geneviève Bujold, Heidi von Palleske, etc. 116 Min; M/ 16 anos.
31 de Outubro de 2017
TEMPO DE GLÓRIA (Glory), de Edward Zwick (EUA, 1989), com Matthew Broderick, Denzel Washington, Cary Elwes, etc. 122 min; M/ 12 anos.
7 de Novembro de 2017
O CLUBE DOS POETAS MORTOS (Dead Poets Society), de Peter Weir (EUA, 1989), com Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, etc. 128 min; M/ 12 anos.
14 de Novembro de 2017
CYRANO DE BERGERAC (Cyrano de Bergerac), de Jean-Paul Rappeneau (França, 1990), com Gérard Depardieu, Anne Brochet, Vincent Perez, etc. 137 min; M/12 anos.
21 de Novembro de 2017
IMPERDOÁVEL (Unforgiven), de Clint Eastwood (EUA, 1992), com Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, etc. 133 min; M/ 16 anos.
28 de Novembro de 2017
FILADÉLFIA (Philadelphia), de Jonathan Demme (EUA, 1993), com Tom Hanks, Denzel Washington, Roberta Maxwell, etc. 125 min; M/12 anos.
5 de Dezembro de 2017
OS CONDENADOS DE SHAWSHANK (The Shawshank Redemption), de Frank Darabont (EUA, 1994), com Tim Robbins, Morgan Freeman, Bob Gunton, etc. 142 min; M/ 16 anos.
12 de Dezembro de 2017
EM CARNE VIVA (Carne trémula), de Director: Pedro Almodóvar (Espanha, 1997), com Liberto Rabal, Francesca Neri, Javier Bardem, etc. 103 min; M/ 16 anos.
19 de Dezembro de 2017
MAGNOLIA (Magnolia), de Paul Thomas Anderson (EUA, 1999), com Tom Cruise, Jason Robards, Julianne Moore, etc. 188 min; M/ 12 anos.

Blog de apoio à masterclass: http://oactror.blogspot.pt/


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O SÉTIMO SELO


O SÉTIMO SELO (1957)



No livro do Apocalipse, no Novo Testamento, pode ler-se o seguinte sobre “O sétimo selo”:
(…) Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu por mais ou menos meia hora. Então vi os sete anjos, que se acham em pé diante de Deus, e vi que lhes foram dadas sete trombetas.
Depois veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar. Ele estava com um incensário de ouro e foi-lhe dado muito incenso para ser oferecido com as orações de todo o povo de Deus sobre o altar de ouro que se encontra diante do trono. E a fumaça do incenso, juntamente com as orações do povo de Deus, subiu da mão do anjo à presença de Deus. E o anjo pegou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, barulhos, relâmpagos e terremoto.
As trombetas dos sete anjos
Então os sete anjos que tinham as trombetas prepararam-se para tocá-las. O primeiro anjo tocou a sua trombeta e fogo e uma chuva de pedras misturados com sangue foram atirados à terra. Uma terça parte da terra foi queimada, assim como uma terça parte das árvores e toda erva verde.
O segundo anjo tocou a sua trombeta e uma coisa, que parecia uma grande montanha pegando fogo, foi atirada ao mar. Uma terça parte do mar tornou-se em sangue, uma terça parte dos animais que viviam no mar morreu e uma terça parte das embarcações foi destruída.
O terceiro anjo tocou a sua trombeta e uma grande estrela, que estava queimando como uma tocha, caiu do céu sobre uma terça parte dos rios e sobre as fontes de água. Uma terça parte das águas se tornou em absinto (pois o nome da estrela era Absinto) e muitas pessoas morreram porque beberam daquela água, uma vez que ela tinha se tornado amarga.
O quarto anjo tocou a sua trombeta e uma terça parte do sol, da lua e das estrelas foi ferida, de modo que uma terça parte deles se tornou escura. Assim, uma terça parte do dia e da noite ficou sem luz.
Depois eu olhei e ouvi uma águia que voava no meio do céu e dizia em voz alta: —Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa dos restantes sons de trombeta que os outros três anjos ainda têm que tocar!
(Apocalipse 8:11)



“O Sétimo Selo”, escrito e realizado por Ingmar Bergman, partindo de uma peça de teatro de sua autoria, é considerado uma das obras-primas do cineasta sueco, “descoberto” dois anos antes (1955) pelos europeus do centro e sul do continente quando “Sorrisos de uma Noite de Verão” é apresentado no Festival de Cannes. “Descobre-se” então um autor de uma profunda exigência estética e intelectual, um homem com um universo extremamente pessoal, e percebe-se que os povos nórdicos continuam a “inventar” artistas de um rigor plástico e de uma profundidade de olhar sobre o mundo e os seres humanos, inclusive na sua relação com o divino, que não deixa de surpreender.
A vida e os seus prazeres, a morte e os seus temores, o destino obscuro do homem, o absurdo da sua existência perante o irremediável final, o diálogo com Deus, as noções de culpa e de remorso, o sofrimento e a dor, estes são alguns dos temas constantes na filmografia de Ingmar Bergman (e não só na sua filmografia, mas também no seu outro trabalho, na escrita, no teatro, na encenação…). Em quase todas as suas obras estes temas surgem com maior ou menor acuidade, mas eles são o centro de “O Sétimo Selo”.
Estamos em plena Idade Média, na Suécia, e vamos ao encontro de um cavaleiro, Antonius Block (Max von Sydow), e do seu fiel companheiro, Jons (Gunnar Björnstrand), ambos regressados das cruzadas. Vêm obviamente desiludidos com a aventura a que tinham sobrevivido, sem terem encontrado um sinal, uma qualquer indicação da presença divina. No seu caminho apenas os horrores da guerra e o silêncio total de qualquer voz redentora. Ao chamar a esta obra “O Sétimo Selo”, Bergman vai inspirar-se numa referência do Livro do Apocalipse onde se fala de um livro que contém sete selos, que se vão abrindo um a um, provocando cada um deles uma nova maldição, até chegar ao sétimo, o mais devastador, que levará ao fim do mundo.
É claro que a intenção de Bergman ao repescar os tempos da Idade Média seria essencialmente falar do seu tempo. Não será por acaso, cremos, que se fala nesse fim do mundo quando a Humanidade atravessa um período extremamente perigoso, com a guerra fria no seu apogeu e a ameaça nuclear a cada esquina. Não se teria ainda igualmente esquecido o horror da II Guerra Mundial e do holocausto.
O ambiente da Idade Média permite ao cineasta criar um clima de persistente pessimismo e terror apocalíptico, tanto mais que cavaleiro e escudeiro se cruzam com fanatismos vários, peste, morte, autos de fé e tudo o mais que se possa imaginar de tenebroso. Alguns comentadores muito preocupados com o rigor histórico em “stricto sensu”, acusam o filme de alguns anacronismos. Dizem, por exemplo, que o regresso das cruzadas e a peste na Suécia não são contemporâneos. Também a perseguição às bruxas naquela zona da Europa não coincide temporalmente com o fim das cruzadas. Mas acreditamos que tais desajustes não beliscam em nada o espírito da obra que não pretende ser um compêndio de História, mas tão somente (ou sobretudo) uma meditação sobre o (absurdo) destino do homem na Terra e as suas permanentes interrogações sobre a vida e a morte.


Bergman ter-se-á inspirado mesmo num famoso quadro de Albertus Pictor, "A Morte disputando uma partida de xadrez", existente na diocese de Estocolmo, para imaginar o motivo central de “O Sétimo Selo”. Na verdade, chegado à sua terra natal, o cavaleiro Antonius Block depara-se com a Morte (Bengt Ekerot), que aparentemente o virá buscar para o levar para terras desconhecidas envolto no seu manto negro. Mas Antonius Block, que aceita o diálogo com essa misteriosa personagem com alguma naturalidade, não está preparado para a acompanhar e propõe à morte um contrato, baseado num jogo de xadrez. Ele e a Morte irão disputar uma partida e a sinistra criatura só o levará depois de terminado o jogo. Assim ganha tempo para procurar respostas para algumas questões e prosseguir a sua viagem.  Mas a divindade é muda e só as atrocidades humanas se mostram na sua eloquência macabra. Cortejo de flagelados, uma jovem considerada bruxa queimada viva, a peste e a mais completa miséria e degradação humana não respondem aos anseios do cavaleiro. O jogo de xadrez vai prosseguindo, e o cavaleiro sabe que nada impedirá a Morte de cumprir o seu destino.
É curioso sublinhar uma evidente afinidade entre “O Sétimo Selo” e o “Don Quixote”, de Cervantes. Em ambos existe a dupla complementar de cavaleiro e escudeiro, e em ambos o cavaleiro se preocupa com questões existenciais profundas, enquanto o companheiro de viagem se mostra muito mais pragmático e conhecedor da vida.
A reflexão de Ingmar Bergman é filosófica e remete obviamente para um nome como Kierkegaard e esse sempre presente vazio ou silêncio de Deus (é possível também falar-se aqui de Friedrich Wilhelm Nietzsche). Não será por acaso que neste aspecto Bergman e Dreyer, ambos nórdicos, sueco e dinamarquês, cruzam visões e influências, ainda que a fé os distinga. Dreyer é um fervoroso crente e Bergman um árido céptico. O que não impede, porém, de existir uma esperança em “O Sétimo Selo”. Um casal de artistas, jongleurs de feira, são os portadores de uma mensagem de alento, desde que se viva simplesmente e se busquem os prazeres mais óbvios da vida. Chamam-se Maria (Bibi Andersson) e José (Nils Poppe) e têm um filho.
Esta família de artistas de circo, que anda de feira em feira, escapa à Morte, quando o cavaleiro desvia a atenção da terrífica criatura, permitindo que a carroça com os ingénuos artistas parta. Bergman parece indicar com esta situação que só os ingénuos e puros que têm na arte uma forma de vida, sobreviverão. Não à morte, que é certa e segura no final do caminho, mas a um destino sem finalidade. É de salientar qual o tipo de artista que consegue escapulir-se à trágica morte. Não é o pintor amargurado e pessimista, nem o trapaceiro director de companhia. É precisamente um casal de artistas sem pretensões, que faz da vida um acto de prazer e de diversão, por muitas que sejam as dificuldades e os perigos. E que glorifica a vida, na figura de um filho que irá assegurar o futuro.
A arte de Bergman (1918–2007) encontra-se já na sua fase de maturidade, pronta a oferecer-nos algumas das suas mais inspiradas obras, como “Morangos Silvestres” (1957), “A Fonte da Virgem” (1960), “Em Busca da Verdade” (1961), “O Silêncio” (1963), “A Máscara” (1966), “A Vergonha” (1968) ou “Lagrimas e Suspiros” (1972). A estes seguem-se ainda, entre alguns mais que se torna impossível citar aqui, obras exemplares como “Cenas da Vida Conjugal” (1973) “Face a Face” (1976), “O Ovo da Serpente” (1978), “Sonata de Outono” (1978) ou “Da Vida das Marionetas” (1980).
Em “O Sétimo Selo”, Bergman ainda se encontra no seu período de preto e branco, aqui sumptuosamente desenhado pela câmara de Gunnar Fischer, que retira o melhor partido dos contrastes e dos ambientes soturnos e das luminosas paisagens. Mas o filme parece abençoado por alguma nuvem passageira, pois a direcção artística, o guarda-roupa, a montagem, a banda sonora e a interpretação são excelentes, com particular relevo para actores como Max von Sydow, Gunnar Björnstrand, Nils Poppe ou Bibi Andersson, todos eles intérpretes muito queridos do cineasta e muito presentes a sua filmografia. 
O título irá definir daí em diante Ingmar Bergman como um dos grandes cineastas do moderno cinema europeu, depois de ter ganho o prémio Especial do Júri, no Festival de Cannes de 1957 e de ter recebidos diversos outros galardões em festivais internacionais.

 
O SÉTIMO SELO
Título original: Det sjunde inseglet
Realização: Ingmar Bergman (Suécia, 1957); Argumento: Ingmar Bergman, baseado numa peça ("Trämålning") do próprio; Produção: Allan Ekelund; Música: Erik Nordgren; Fotografia (p/b): Gunnar Fischer; Montagem: Lennart Wallén; Design de produção: P.A. Lundgren; Guarda-roupa: Manne Lindholm; Maquilhagem: Nils Nittel; Assistentes de realização: Lennart Olsson; Departamento de arte: Carl-Henry Cagarp; Som: Evald Andersson, Lennart Wallin, Aaby Wedin; Companhias de produção: Svensk Filmindustri (SF); Intérpretes: Gunnar Björnstrand (Jöns), Bengt Ekerot (Morte), Nils Poppe (Jof / José), Max von Sydow (Antonius Block), Bibi Andersson (Mia / Maria), Inga Gill (Lisa), Maud Hansson (bruxa), Inga Landgré (Karin), Gunnel Lindblom, Bertil Anderberg, Anders Ek, Åke Fridell, Gunnar Olsson, Erik Strandmark, Sten Ardenstam, Harry Asklund, Benkt-Åke Benktsson, Tor Borong, Gudrun Brost, Tor Isedal, Ulf Johansson, Tommy Karlsson, Lars Lind, Gordon Löwenadler, Mona Malm, Josef Norman, Gösta Prüzelius, Fritjof Tall, Lennart Tollén, Nils Whiten, Karl Widh, etc.  Duração: 96 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Costa do Castelo Filmes; Leopardo Filmes (2014); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 23 de Outubro de 1963.

MAX VON SYDOW (1929 - )
Um dos mais conhecidos e reputados actores suecos, Max Carl Adolf von Sydow, de seu nome de baptismo, nasceu a 10 de Abril de 1929, em Lund, Skåne län, na Suécia. Oriundo de uma família da classe média, a mãe, a baronesa Maria Margareta era professora e o pai, Carl Wilhelm von Sydow, etnólogo e professor de folclore. Depois dos estudos iniciais, e depois de passar por um grupo teatral estudantil, inscreveu-se na Royal Dramatic Theatre (1948-1951), onde foi colega de Lars Ekborg, Margaretha Krook ou Ingrid Thulin. Licenciado, trabalhou em teatros de Norrköping e Malmö. Em 1949, estreia-se no cinema, em “Apenas Mãe”, de Alf Sjöberg, mas é sobretudo a partir de 1957, com o seu trabalho em “O Sétimo Selo”, que se torna conhecido internacionalmente, iniciando uma carreira que o divide entre os palcos e os écrans suecos, e os estúdios internacionais, vivendo tanto em Estocolmo, como em Los Angeles, Califórnia, Roma, Itália ou Paris, França. Tornou-se cidadão francês em 2002. É seguramente o actor sueco mais internacional de todos os tempos, tendo aparecido em filmes suecos, dinamarqueses, noruegueses, alemães, franceses, americanos, ingleses, italianos e espanhóis. Mas a sua carreira fica para sempre ligada aos títulos dirigidos por Ingmar Bergman entre os anos 50 e 70, como “Morangos Silvestres”, “No Limiar da Vida”, “O Rosto”, “A Fonte da Virgem”, “Em Busca da Verdade”, “Luz de Inverno”, “A Hora do Lobo”, “A Vergonha”, “Paixão” ou “O Amante” (1971). Desde muito cedo, começou a ser chamado para grandes produções internacionais e o seu nome surge em obras como “A Maior História de Todos os Tempos” (1965), onde interpretou a figura de Cristo, “O Processo Quiller” (1966), “A Carta do Kremlin”, “Os Emigrantes” (1971), “O Exorcista” (1973), “Os Três Dias do Condor” (1975), “Nunca Mais Digas Nunca” (1983), “Duna” (1984), “Ana e as Suas Irmãs” (1986), “Pelle, o Conquistador” (1987), “Despertares” (1990), “Relatório minoritário” (2002), “Shutter Island” (2010), “Extremamente Alto, Incrivelmente Perto” (2011), “Star Wars: O Despertar da Força” (2015) ou na série televisiva “A Guerra dos Tronos” (2016). Em 1988, estreia-se como realizador com “Ved vejen”. Foi casado com a actriz Christina Olin (1951 - 1979), de quem se divorciou e, nesta altura, é casado com a realizadora e professora francesa Catherine Brelet (1997 - )-
É até hoje o único actor sueco a ter sido nomeado para o Oscar de Melhor Actor. Foi-o por das vezes, com “Pelle, o Conquistador” (1987) e com “Extremamente Alto, Incrivelmente Perto” (2011). Actrizes suecas houve cinco: Greta Garbo, Ingrid Bergman, Ann-Margret, Lena Olin e Alicia Vikander.

GUNNAR BJÖRNSTRAND
 (1909 – 1986)
Knut Gunnar Johanson nasceu a 13 de Novembro de 1909, em Estocolmo, Suécia, cidade onde haveria de falecer a 26 de Maio de 1986.  O pai era actor, Oscar Johanson, e não surpreende que tenha o gosto pelo teatro desde novo, apesar de ter passado por diversos empregos antes de se estrear no Lilla Teatern em Estocolmo. Em 1933, começou estudos no Royal Dramatic Theater, condiscípulo de Ingrid Bergman, Signe Hasso e da mulher com quem viria a casar, Lillie Björnstrand. Licenciado, ingressou no Swedish Theater, em Vasa, Finlândia, tendo depois regressado à Suécia. Integrou o elenco do Teatro Hippodrom. Os inícios da carreira no país natal foram difíceis. No cinema, estreou-se no inicio dos anos 30, mas só em 1943, com “Natt i hamn”, de Olof Molander, já era considerado ainda que num pequeno papel. Foi durante a II Guerra Mundial que começou a trabalhar com Ingmar Bergman no teatro, na peça de August Strindberg, “Spöksonaten”. A sua filmografia inicial não é muito brilhante, abundando comédias sem grande relevo. Mas na década de 50, sob a direcção de Ingmar Bergman, torna-se notado em obras como “Noite dos Saltimbancos” (1953), “Uma Lição de Amor” (1954), “Sorrisos de Uma Noite de Verão” (1955), “O Sétimo Selo” ou “Morangos Silvestres” (1957), “O Rosto” (1958), “O Olho do Diabo” (1960), “Em Busca da Verdade” (1961), “Luz de Inverno” (1963), entre algumas mais, num total de 23 participações. Foi o actor que mais trabalhou com Bergman, de quem era amigo pessoal. As derradeiras colaborações com o mestre sueco foram “A Máscara” (1966), “A Vergonha” (1968), “Face a Face” (1976), “Sonata de Outono” (1978) e “Fanny e Alexandre” (1982).

Curioso analisar em paralelo a carreira de Gunnar Björnstrand e Max Von Sydow. Ambos lançados internacionalmente em títulos de Ingmar Bergman, ambos excelentes actores, enquanto Sydow, mais extrovertido, cosmopolita, bon vivant, enveredou por uma carreira internacional com projecção em vários países, Björnstrand, com uma figura que apontava para composições extáticas, puritanas, rigorosas manteve-se pela Suécia, com uma ou outra incursão por filmes sobretudo italianos. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O PADRINHO


O PADRINHO (1972)


Vi “O Padrinho” na sua estreia em Portugal, em Outubro de 1972, creio que o revi pouco anos depois, e voltei a vê-lo agora, numa cópia Blu-ray, para escrever este texto. Também escrevi sobre o filme aquando do seu lançamento e não costumo lamentar escritos antigos meus. Neste caso, tenho de dar a mão à palmatória. Foi um dia mau, o meu, ao ver e analisar o filme, muito preocupado com o que a publicidade excessiva faz aos filmes, e não dando suficiente importância à obra em si. Por essa altura já alguns exaltados diziam que era “o melhor filme de sempre”, no que não concordava na altura nem agora, mas os meus comentários limitavam de alguma forma as qualidades desta realização de Francis Ford Coppola que, presentemente, não tenho dúvidas em classificar de obra-prima.
Antes de “O Padrinho”, Coppola tinha realizado filmes interessantes, mas sem nada que neles autorizasse supor a existência de um génio. “Demência 13” (1963), “A Noite é Perversa”, “O Vale do Arco-Íris”, “Chove no Meu Coração” (1969) não permitiam antever o que viria depois. Desde logo a trilogia “O Padrinho”, em cinema e televisão, mas igualmente títulos tão importantes como “O Vigilante”, “Apocalypse Now”, “Do Fundo do Coração”, “Os Marginais”, “Juventude Inquieta”, “Cotton Club”, “Peggy Sue Casou-se”, “Jardins de Pedra”, “Tucker - O Homem e o Seu Sonho”, “Drácula de Bram Stoker”, “O Poder da Justiça”, ou “Tetro” (2009), último título seu até hoje que nos entusiasmou.
A partir de “O Padrinho”, Coppola assume-se como um dos grandes cineastas do moderno cinema norte-americano, com uma obra de um fôlego dramático, em simultâneo de um classicismo e de um arrojo formal que surpreendem e fascinam.
Em “The Godfather” não sei que mais enaltecer, se a inteligência e lucidez do argumento, se a magnificência e subtileza da realização, se o espantoso trabalho de actores com que nos deparamos, se a qualidade técnica e artística da fotografia, da direcção artística, do guarda roupa, da música, enfim de todos os aspectos desta magnífica orquestra a funcionar em uníssono para um fim desejado.



Tudo se passa em meados dos anos 40, terminada a II Guerra Mundial. Em Nova Iorque e na zona que rodeia a metrópole, algumas famílias da Mafia disputam o poder e a influência que lhes permitam multiplicar os lucros. Estamos numa época de mudança. Os antigos gangsters dos anos 30 estavam a desaparecer e a dar lugar a novos empórios com novas filosofias de sobrevivência. Uma dessas famílias, talvez a mais poderosa e a mais invejada, era a de Don Corleone (Marlon Brando), que funcionava à moda antiga, que preferia controlar o jogo, as bebidas, as mulheres, a prostituição e o proxenetismo, do que alinhar na droga, que se adivinhava surgir em força. Dom Corleone, contudo, tem um “rigoroso código moral” e não aceita esse negócio de drogas que lhe é proposto, recusando viciar a juventude. Mais tarde outros irão aceitar as regras, desde que as drogas duras sejam vendidas sobretudo “a pretos e latinos”.
Mas é a recusa inicial de Don Corleone que irá lançar os vários gangs de mafiosos uns contra os outros, culminando tudo isto com um massacre desapiedado, no meio do qual desaparece não só Dom Corleone, como familiares, e muitos dos seus principais colaboradores e adversários. Quando a dinastia dos Corleone parece à beira do total colapso, eis que um novo “padrinho” surge no horizonte com processos bem mais “modernos”, muito mais de acordo com o tipo de iniciativas actuais. 0 novo Corleone (Al Pacino) irá então triunfar onde o velho estilo do gangster de Chicago dos anos 30 tinha já naufragado. Curioso, no entanto, notar que o novo “padrinho” surge de início como o descendente que mais longe se encontra de poder prosseguir a obra do pai, sendo, aliás, cuidadosamente afastado de todos os negócios menos claros. Porque ele era a face legal, a honra da família, o brilhante representante de uma aculturação intensa, que estudara, servira no exército, fora condecorado por actos heroicos. Ele era o homem que a família conseguira introduzir dentro do sistema americano, que a própria América homenageara. Parece-nos este um dos aspectos mais curiosos do filme de Coppola ao documentar este confronto entre duas mentalidades, uma que entra em declínio, enquanto outra ascende vertiginosamente ao poder, mostrando igualmente como os seus métodos violentos se mantêm, mas com novas nuances, com matizes diversos nos seus processos de luta pelo poder. 
Neste particular, toda a sequência (montada em paralelo) de um baptizado e de uma chacina é obviamente elucidativa dos novos métodos que iludem a agressividade de outrora. A este respeito, outros se lhe poderão acrescentar, desde a análise de uma situação dominada por um paternalismo ditatorial (a figura de Don Corleone - Marlon Brando justifica as suas acções por uma aparente “rectidão moral” e por uma obediência a preceitos de justiça e regras de moralidade muito próprias, de que facilmente se descobre a falência), até ao desenho de uma época, passando pelo jogo de interesses que grupos clandestinos conseguem sustentar com altas individualidades do poder administrativo e legislativo americanos (senadores, juízes, juristas, polícia, etc.). No interior deste longo painel de uma sociedade viciada pelo crime e pela corrupção, iremos ainda encontrar referências directas a individualidades reconhecíveis, caso do “cantor-actor” que tudo parece indicar tratar-se de Frank Sinatra, nos tempos em que este andava por baixo e terá sido a influência de algum “padrinho” que lhe conseguiu o papel em “Até à Eternidade” que o voltaria a catapultar para a glória, incluindo com a atribuição de um Oscar que algumas más línguas (quem sabe?) afirmam ter sido igualmente conquistado com a interferência da Mafia.



Neste aspecto, o filme de Coppola é terrivelmente eficaz na crítica e no desmontar dos esquemas montados para assegurarem o progresso económico das “famílias” que trocam favores em todos os escalões sociais da sociedade certificando-se que para todos os problemas se encontram “soluções”. “O Padrinho” fala da Mafia nos anos 40, nos EUA. Será que o que então aí se passava já pertence ao passado? Em grande parte, é claro que sim. Os métodos são hoje em dia muito mais higienizados, mas não menos violentos. E as “famílias” diversificaram-se. Hoje não são só os sicilianos, a corrupção instala-se um pouco por todo o lado, e tudo se faz para se esconder os processos nada lícitos de enriquecer. É difícil hoje falar-se de um padrinho, quando eles proliferam a todos os níveis. Só na América? Infelizmente, o que nos dizem os factos é que os padrinhos não têm pátria. Tudo se sabe numa democracia? “O Padrinho” também nos mostra como se cozinham as notícias, com jornalistas comprados que escrevem o que convém a determinada personalidade ou grupo. Sobretudo como destruir socialmente alguém que não nos interessa que tenha boa fama. O caso do capitão da polícia que é pago enquanto serve os interesses, mas de quem depois se descobrem os podres, para arruinar a reputação é exemplar. Veja-se inclusive como esses podres são conservados em banho-maria enquanto a figura dá jeito e cumpre as tarefas para que é paga, bem paga aliás, e como eles saltam para as paragonas dos jornais quando se torna necessário.
Uma obra bem elaborada na origem, pensada, estruturada, rica de implicações e significados, subtil no que tenta fazer passar, é obviamente uma obra que exige no acto de desfrute a mesma atenção e critério, a mesma complexidade de análise, a exploração de caminhos diversos. “O Padrinho” é um manancial de interpretações possíveis. Atente-se na figura de Don Corleone (Marlon Brando). Este chefe da Mafia é um exemplo de ditador político, que baseia o seu poder na célula familiar, mesmo quando não existem laços desse género. Quando assim é, eles toram-se protegidos do “padrinho”, pedem favores e ficam à espera que os mesmos sejam pagos. Tecem-se assim teias de influências secretas a que se lança mão quando necessário. O filme começa, aliás, com uma cena absolutamente notável, com um pedido de favor, na obscuridade da sala privada de Don Corleone, onde este explica as regras de conduta. Subordinação completa ao seu poder, se pretende um favor que será conferido de imediato. Mais tarde, o penitente cumprirá o reverso da medalha, como dono de uma funerária. Mas esta cena é ainda importante para definir o papel da América como terra prometida, paraíso para os italianos que a demandam há séculos. Veja-se como este filme de Coppola anda à volta apenas de italianos, italo-americanos e americanos brancos. Esta é a sociedade que importa para o “padrinho”. É neste círculo que estabelece as regras, que as faz cumprir, que negoceia em paridade, que aceita misturas raciais. O padrinho governa esta sociedade fechada, numa ordem corporativa, dirigida de forma paternalista (O chefe sabe o que é melhor para todos e impõe esse saber). A Mafia poderá estar na base de algumas formas ditatoriais, como o fascismo italiano ou a ditadura corporativa e paternalista de Salazar. 



Esta história que Francis Ford Coppola escreveu de colaboração com Mario Puzo, o autor do romance de onde tudo parte, mostra-se ainda curiosa de um outro ponto de vista. Claro que a visão dos responsáveis por este projecto é crítica. Mas não deixa de existir um certo fascínio por esta sociedade patriarcal, com regras muito definidas e uma defesa intransigente da família. O próprio Coppola dirige este empreendimento como um chefe de família, fazendo participar nele toda a família, desde o pai, irmã, filhos, demais parentes. Olhando para as fotografias de rodagem, o ambiente é igualmente de fraterna criatividade. Não esquecer, portanto, que Coppola é de origem italiana, o que fica bem demonstrado ao longo de toda a sua filmografia. A empatia com os costumes italianos está bem patente nesse fabuloso casamento inicial, uma das sequências absolutamente inesquecíveis deste filme, bem como o baptismo que virá depois. Em ambas as sequências a vida é aclamada ao ar livre, na luminosidade do dia, enquanto os negócios sujos se projectam no interior de gabinetes escusos, sombrios, que facilmente se associam a velórios. Há inclusive uma cena de refeição que mostra como os negócios devem ser conduzidos longe da esfera familiar, longe das mulheres e das crianças. À mesa não se fala de negócios, é uma norma que urge preservar. 
“O Padrinho” mostra como os traidores são tratados, como os corruptos têm a sorte que merecem, como os leais são favorecidos, e nunca se mostra o reverso da medalha, o que está por detrás desta família organizada em função do crime: não há prostitutas na rua ou em bordeis, não há vítimas de bebida ou de jogo, nem sequer se vê a droga a progredir no tecido social. O que assistimos é a uma visão interior, íntima, familiar em torno de um desses imperadores da Mafia na América de 40. Na já aludida conversa inicial, o dono de uma funerária pede justiça para a filha que “perdeu a honra” nos braços de um jovem. Ele pretende justiça. Don Vito pergunta-lhe porque só veio agora. “Fui à polícia, como um bom americano”. “Porque foi à polícia e não veio ter comigo logo?”, pergunta o padrinho. A confirmação de que existem duas sociedades, dois poderes, duas justiças justapostas.
Voltando à cena do casamento inicial, veja-se a mestria de Coppola a desenhar figuras e situações. Existem várias personagens essenciais ao desenrolar da intriga futura. Em meia dúzia de planos elas são descritas nos seus traços fundamentais. De Don Vito Corteone até ao mais insignificante secundário que ensaia no exterior o pequeno diálogo que irá manter com o padrinho no interior. Esta largueza de desenho, esta minucia de caracterização são constantes ao longo de toda a obra. Partindo do argumento, esmera-se na realização, prolonga-se nos diferentes sectores técnicos, da direcção artística, a fotografia, à música (que Coppola divide pelo felliniano Nino Rota e pelo próprio pai, Carmine Coppola, que aparece no filme a tocar piano), até culminar no fabuloso elenco, magistralmente dirigido. Marlon Brandon é genial como (quase) sempre, muito embora a caracterização me continue a parecer algo excessiva, passando por Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Sterling Hayde, John Cazale, Diane Keaton, Richard Conte até aos actores menos conhecidos, mas todos eles brilhantes, Al Lettieri, Abe Vigoda, Talia Shire, Gianni Russo, Rudy Bond, Al Martino, Richard S. Castellano, John Marley, entre tantos outros. 




O PADRINHO
Título original: The Godfather
Realização: Francis Ford Coppola (EUA, 1972); Argumento: Francis Ford Coppola, Mario Puzo, Segundo romance de Mario Puzo ("The Godfather"); Produção: Gray Frederickson, Albert S. Ruddy, Robert Evans; Música: Nino Rota; Fotografia (cor): Gordon Willis; Operador de câmara: Michael Chapman; Montagem: William Reynolds, Peter Zinner; Casting: Louis DiGiaimg, Andrea Eastman, Fred Roos, Riccardo Bertoni; Design de produção: Dean Tavoularis; Direcção artística: Warren Clymer; Decoração: Philip Smith; Guarda-roupa: Anna Hill Johnstone, George Newman, Marilyn Putnam, Joan Joseff; Maquilhagem: Philip Leto, Phil Rhodes, Dick Smith; Direcção de Produção: Fred C. Caruso, Valerio De Paolis,Ned Kopp; Assistentes de realização: Tony Brandt, Fred T. Gallo, Stephen F. Kesten, Steven P. Skloot; Departamento de arte: William Canfield, Robert Hart, Robert Scaife; Som: Charles Grenzbach, Christopher Newman, Richard Portman; Efeitos especiais: Sass Bedig, A.D. Flowers, Joe Lombardi, Paul J. Lombardi; Efeitos visuais (restauro, 2007): Kevin Chaja, Padraic Culham, Daphne Dentz, Karina Desin, Bill Roper, etc. Companhias de produção: Paramount Pictures, Alfran Productions; Intérpretes: Marlon Brando (Don Vito Corleone), Al Pacino (Michael Corleone), James Caan (Sonny Corleone), Richard S. Castellano (Clemenza), Robert Duvall (Tom Hagen), Sterling Hayde (Capt. McCluskey), John Marley (Jack Woltz), Richard Conte (Barzini), Al Lettieri (Sollozzo), Diane Keaton (Kay Adams), Abe Vigoda (Tessio), Talia Shire (Connie), Gianni Russo (Carlo), John Cazale (Fredo), Rudy Bond (Cuneo), Al Martino (Johnny Fontane), Morgana King (Mama Corleone), Lenny Montana (Luca Brasi), John Martino, Salvatore Corsitto, Richard Bright, Alex Rocco, Tony Giorgio, Vito Scotti, Tere Livrano, Victor Rendina, Jeannie Linero, Julie Gregg, Ardell Sheridan, Simonetta Stefanelli, Angelo Infanti, Corrado Gaipa, Franco Citti, Saro Urzì, Chris Anastasio, Norm Bacchiocchi, Max Brandt, Tybee Brascia, Carmine Coppola (pianist), Gian-Carlo Coppola (no baptizado), Italia Coppola (Extra), Roman Coppola (rapaz no passeio a ver passar o funeral), Sofia Coppola (Michael Francis Rizzi), Don Costello (Don Victor Stracci), Robert Dahdah, Richard Fass, Gray Frederickson, Ron Gilbert, Anthony Gounaris, Joe Lo Grippo, Sonny Grosso, Louis Guss, Merril E. Joels, Randy Jurgensen, Tony King, Peter Lemongello, Tony Lip, Frank Macetta, Lou Martini Jr., Raymond Martino, Joseph Medaglia, Carol Morley, Rick Petrucelli, Joe Petrullo, Burt Richards, Sal Richards, Tom Rosqui, Nino Ruggeri, Frank Sivero, Filomena Spagnuolo, Joe Spinell, Gabriele Torrei, Nick Vallelonga, Ed Vantura, Ron Veto, Matthew Vlahakis, Conrad Yama, etc. Duração: 175 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Filmes / Paramount Pictures; Classificação etária: M/ 17 anos (posteriormente: M/ 18 anos); Data de estreia em Portugal: 24 de Outubro de 1972.


MARLON BRANDO (1924 - 2004)
Considerado por muitos como “o melhor actor de cinema de todos os tempos”, Marlon Brando, que revolucionou decididamente as artes dramáticas nos Estados Unidos com suas actuações em “Um Eléctrico Chamado Desejo”, em 1951, e “Há Lodo no Cais”, em 1954, e que, depois, em 1972, criaria a mítica personagem de Don Vito Corleone em “O Padrinho”, morreu aos 80 anos, num hospital de Los Angeles.
Foi, desde o início da carreira no cinema, no princípio da década de 50, um actor que deu corpo e alma a um tipo de herói americano por excelência. Na América individualista, há vários géneros de heróis, do “self made man” vencedor, que faz a imagem dos Estados Unidos triunfalistas, ao anti-herói amargurado por dúvidas, com ou sem causas a defender, sacrificado e mortificado por uma sociedade desapiedada, onde só os mais fortes e sem escrúpulos triunfam. Antes de Marlon Brando, tinha havido já ensaios tímidos desta personagem, com actores como John Garfield, depois dele alguns outros surgiram a dar corpo a essa imagem, como James Dean, Montgomery Clift, Paul Newman ou Steve McQueen. Mais recentemente, Sean Penn ou Leonardo di Caprio podem ser dados como sucessores da dinastia. São sedutores inatos, personagens românticas, almas transviadas, perdidas, incapazes de segurar momentos de perfeição ou plenitude. Momentos que atravessam, para se perderem logo a seguir, num ímpeto de rebeldia, num acesso de independência gratuita, que apenas procura marcar uma atitude.
Marlon Brando teve uma infância infeliz. Mas onde é que já se leu esta frase adaptada a actores norte-americanos, daqueles que para sempre marcaram a história do teatro e do cinema mundiais? Nasceu em Omaha, no Estado do Nebraska, a 3 de Abril de 1924, numa família que mesclava as suas origens irlandesas com antepassados franceses e ingleses. Chamavam-se originalmente Brandeau.
O pai, de nome Marlon Brando, era um vendedor de carbonato de cálcio e a mãe, cujo nome de solteira era Dorothy Pennebaker, trabalhava no Teatro Comunitário de Omaha, onde ocasionalmente era actriz. Foi ela quem levou Marlon Brando ao teatro pela primeira vez. Era um rapaz rebelde e o pai mandou-o para uma escola militar, a Shattuck Military Academy, em Fairbult, Minnesota, para o disciplinar, mas foi rapidamente expulso. Voltou a casa, por uns tempos, mas aos 19 anos mudou-se para Nova Iorque, dividindo um apartamento com sua irmã Frances. Era a independência. O gosto da liberdade, que não mais deixou de perseguir. Na academia militar, apenas um professor de inglês que também encenava peças de teatro, manifestara optimismo na carreira futura de Brando. Quando saiu da escola, despediu-se dele com um reconfortante “o mundo ainda há-de ouvir falar de ti!” Como só o tinham elogiado no teatro, pensou: “Vou ser actor!”
Em 1943, Brando inscreve-se num curso de teatro dirigido pelo emigrante alemão Erwin Piscator. Frequentou o Dramatic Workshop da New School for Social Research, tendo como professora Stella Adler, que vivera em Moscovo na década de 30 e estudara e trabalhara com Konstantin Stanislavsky no Teatro das Artes de Moscovo. Na América, animou o Group Theatre que usava o “método” de Stanislavsky, segundo o qual cada actor tinha de alimentar as personagens que criava com as emoções da sua própria personalidade. Marlon Brando sempre esteve mais próximo de Stella Adler do que do outro seguidor do método, Lee Strasberg, de quem, aliás, se distanciou tempos mais tarde, acusando-o de oportunismo e muito mais.
Em 1944 aparece na Broadway, na obra – não musical - de Rodgers and Hammerstein "I Remember Mama", que esteve dois anos em cena. Em 1946, Brando interpreta o drama de Maxwell Anderson “Truckline Café”, dirigido por Elia Kazan, o mesmo encenador que lhe daria o papel de Kowalski em “Um Eléctrico Chamado Desejo”, em 1947. A personagem do brutal marido de Stella na obra-prima de Tennessee Williams, que interpretou durante dois anos na Broadway, lança-o definitivamente no sucesso.
Entretanto, estreia-se no cinema em 1950, em “The Men”, de Fred Zinnemann, ao lado de Teresa Wright, num papel que à partida não se imaginaria entregue ao recém-criado “sex symbol” que apaixonara Nova Iorque no teatro. Mas a verdade é que Brando é um paraplégico, preso a uma cama ou a uma cadeira de rodas. Foi o início de uma carreira brilhante, com algumas dezenas de filmes inesquecíveis.


Filmografia
1. Como Actor: 1950: The Men ou “Battle Stripe” (O Desesperado), de Fred Zinnemann; 1951: A Streetcar Named Desire (Um Eléctrico Chamado Desejo), de Elia Kazan; 1952: Viva Zapata! (Viva Zapata!), de Elia Kazan; 1953: Julius Caesar ou “William Shakespeare's Julius Caesar” (Júlio César), de Joseph L. Mankiewicz; 1953: The Wild One (O Selvagem), de László Benedek; 1954: On the Waterfront (Há Lodo No Cais), de Elia Kazan; 1954: Desirée (Desirée, O Primeiro Amor de Napoleão), de Henry Koster; 1955: Guys and Dolls (Eles e Elas), de Joseph L. Mankiewicz; 1956: The Teahouse of the August Moon (A Casa de Chá do Luar de Agosto), de Daniel Mann; 1957: Sayonara (Sayonara), de Joshua Logan; 1958: The Young Lions (Os Jovens Leões), de Edward Dmytryk; 1959: The Fugitive Kind (O Homem na Pele da Serpente), de Sidney Lumet; 1961: One-Eyed Jacks (Cinco Anos Depois), de Marlon Brando; 1962: Mutiny on the Bounty (Revolta na Bounty), de Lewis Milestone, Carol Reed (não creditado); 1963: The Ugly American (Sua Excelência, o Embaixador), de George Englund; 1964: Bedtime Story (Os Sedutores), de Ralph Levy; 1965: Morituri ou “The Saboteur, Code Name Morituri” (Morituri), de Bernhard Wicki; 1966: The Chase (Perseguição Impiedosa), de Arthur Penn; 1966: The Appaloosa ou “Southwest to Sonora” (Um Homem sem Medo), de Sidney J. Furie; 1967: A Countess from Hong Kong (A Condessa de Hong Kong), de Charles Chaplin; 1967: Reflections in a Golden Eye (Reflexos num Olho Dourado), de John Huston; 1969: Queimada (Queimada), de Gillo Pontecorvo; 1972: The Nightcomers (Os Perversos), de Michael Winner; 1972: The Godfather (O Padrinho), de Francis Ford Coppola; 1972: Ultimo Tango a Parigi ou “Last Tango in Paris” ou “Le Dernier Tango à Paris” (O Último Tango em Paris), de Bernardo Bertolucci; 1976: The Missouri Breaks (Duelo no Missouri), de Arthur Penn; 1978: Superman ou “Superman: The Movie” (Super-Homem, o Filme), de Richard Donner; 1979: Apocalypse Now (1979) Apocalypse Now Redux (2001) (Apocalipse Now e Apocalipse Now Redux), de Francis Ford Coppola; 1979: Roots: The Next Generations (Raizes: A Próxima Geração), de Lloyd Richards, John Erman, Charles S. Dubin, Georg Stanford Brown (mini-série para TV); 1980: The Formula (A Fórmula), de de John G. Avildsen; 1989: A Dry White Season (Assassinato Sob Custódia), de Euzhan Palcy; 1990: The Freshman (O Caloiro da Máfia), de Andrew Bergman; 1992: Christopher Columbus: The Discovery (Cristovão Colombo: A Descoberta), de John Glen; 1992: The Godfather Trilogy (O Padrinho – A Trilogia), de Francis Ford Coppola; 1995: Don Juan DeMarco (Don Juan de Marco), de Jeremy Leven; 1996: The Island of Dr. Moreau (A Ilha do Dr. Moreau), de John Frankenheimer, Richard Stanley (não creditado, despedido e substituído por John Frankenheimer); 1997: The Brave (O Bravo), de Johnny Depp; 2001: The Score (Sem Saída), de Frank Oz, Robert De Niro (não creditado); 2006: Big Bug Man, de Bob Bendetson, Peter Shin;
2. Como Realizador: 1961: One-Eyed Jacks (Cinco Anos Depois), de Marlon Brando.


AL PACINO (1940 - )
Alfredo James Pacino, mais conhecido por Al Pacino, nasceu em Nova Iorque (East Harlem), a 25 de Abril de 1940), filho de italo-americanos, Salvatore Pacino e Rose, que se divorciaram quando ele tinha dois anos. A mãe mudou-se para próximo do Zoológico do Bronx para morar com seus pais, que, curiosamente, eram provenientes de uma pequena cidade siciliana de nome Corleone. O pai viajou para Covina, na Califórnia, onde trabalhou em seguros e como proprietário de um restaurante. "Sonny", como era conhecido pelos amigos, pensava vir a ser jogador de basebol, mas abandonou a escola aos 17 anos e fugiu de casa. Empregou-se como mensageiro, empregado de correios e finanças, com o que conseguiu pagar as aulas de interpretação. Era tido como problemático e arruaceiro. Começou a fazer teatro, em teatro de amador, em garagens, tentou o Actors Studio, mas foi rejeitado. Acabou por ingressar no Herbert Berghof Studio (HB Studio), onde foi aluno de Charlie Laughton (nada a ver com actor Charles Laughton), que se tornou seu mentor e melhor amigo. Em finais dos anos 60, estuda sob a orientação de Lee Strasberg, o que funcionou igualmente como terapia para os seus problemas de juventude rebelde, causados pela pobreza e o meio opressor onde vivia. Começou a trabalhar no teatro profissional, e o talento foi reconhecido. Ganhou um Obie Award pela sua interpretação em “The Indian Wants the Bronx” e um Tony Award por “Does the Tiger Wear a Necktie?”. O seu primeiro trabalho no cinema data de 1969, “Me Natalie”. Em 1971, com o seu trabalho “The Panic in Needle Park”, ganhou notoriedade e chamou a atenção de Francis Ford Coppola, que lhe entrega o papel de Michael Corleone no filme “The Godfather”, de 1972. Com ele recebeu a primeira nomeação para o Oscar de Melhor Actor secundário. Dois anos depois, somaria outra nomeação, agora como Melhor Actor, em “The Godfather: Part II”. Só em 1993 Al Pacino conseguiria alcançar o Oscar, com o seu trabalho em “Scent of a Woman”. No mesmo ano, foi também nomeado novamente como Melhor Actor Secundário, em “Glengarry Glen Ross”. A sua carreira vive um período de ouro, com intervenções em filmes notáveis. A década de 1980 não lhe foi tão favorável, integrando alguns fracassos (“Cruising” ou “Author! Author!”), apesar de o manter em bom nível, por exemplo em “Scarface”, onde volta a ser premiado nos Globos de Ouro. Em “Revolution”, de 1985, tem a que é considerada uma das suas piores interpretações, mas regressa no final na década em “Sea of Love”, mantendo as excelentes interpretações em obras comoSerpico”, “Dog Day Afternoon”, “...And Justice for All”, “Carlito’s Way”, “Heat”, “Donnie Brasco” ou “The Recruit”.
Em simultâneo, nunca abandonou o teatro, sendo frequente encontrá-lo nos palcos da Broadway (e também off-Broadway). Sempre com grande sucesso, e muitas vezes em reportório shakespeariano. Ganhou Tonys pelas participações em “Does a Tiger Wear a Necktie?” (1969) e “The Basic Training of Pavlo Hummel” (1977). Estreia-se como realizador com “The Local Stigmatic”, nunca concluído, continuando depois com dois títulos extremamente interessantes, “Looking for Richard” e “Chinese Coffee”.


Filmografia:
No cinema: 1969: Me, Natalie (Sou eu, a Natália), de Fred Coe; 1971: The Panic in Needle Park (Pânico em Needle Park), de Jerry Schatzberg; 1972: The Godfather (O Padrinho), de Francis Ford Coppola; 1973: Scarecrow (O Espantalho) de Jerry Schatzberg; 1973: Serpico (Serpico), de Sidney Lumet; 1974: The Godfather Part II (O Padrinho, Part II), de Francis Ford Coppola; 1975: Dog Day Afternoon (Um Dia de Cão), de Sidney Lumet; 1977: Bobby Deerfield (Bobby Deerfield, Um Momento, Uma Vida), de Sydney Pollack; 1979: And Justice for All (...E Justiça para Todos), de Norman Jewison; 1980: Cruising (A Caça), de William Friedkin; 1982: Author! Author! (O Palco e a Vida), de Arthur Hiller; 1983: Scarface (Scarface - A Força do Poder), de Brian De Palma; 1985: Revolution (Revolução), de Hugh Hudson; 1989: Sea of Love (Perigosa Sedução), de Harold Becker; 1990: Dick Tracy (Dick Tracy), de Warren Beatty; The Godfather Part III (O Padrinho, Parte III) de Francis Ford Coppola; 1991: Frankie and Johnny (Frankie e Johnny), de Garry Marshall; 1992: Glengarry Glen Ross (Sucesso a Qualquer Preço), de James Foley; Scent of a Woman (Perfume de Mulher), de Martin Brest; 1993: Carlito's Way (Perseguido Pelo Passado) de Brian De Palma; 1995: Heat (Heat - Cidade Sob Pressão), de Michael Mann; 1996: City Hall (A Sombra da Corrupção), de Harold Becker; Looking for Richard (À Procura de Richard), de Al Pacino; 1997: Donnie Brasco (Donnie Brasco), de Mike Newell; Devil's Advocate (O Advogado do Diabo) de Taylor Hackford; 1999: The Insider (O Informador), de Michael Mann; Any Given Sunday (Um Domingo Qualquer) de Oliver Stone; 2000: Chinese Coffee de Al Pacino; 2002: Insomnia (Insónia), de Christopher Nolan; S1m0ne (Simone), de Andrew Niccol; 2003: The Recruit (O Recruta), de Roger Donaldson; 2004: The Merchant of Venice (O Mercador de Veneza), de Michael Radford;2007: 88 Minutes (88 Minutos), de Jon Avnet; 2007: Ocean's Thirteen (Ocean's Thirteen), de Steven Soderbergh; 2008: Righteous Kill (A Dupla Face da Lei), de Jon Avnet; 2011: Wilde Salome (Salomé), de Al Pacino; 2013: Stand Up Guys (Gangsters da Velha Guarda) de Fisher Stevens; 2015: The Humbling (A Humilhação), de Barry Levinson; 2015: Danny Collins (Danny Collins - Nunca é Tarde), de Dan Fogelman; 2016: Misconduct (Misconduct - Jogos Perigosos) de Shintaro Shimosawa; 2017: Where the White Man Runs Away, de Bryan Buckley; 2018: The Irishman, de Martin Scorsese (em preparação). 
Televisão: 2003: Angels in America, de Mike Nichols; 2010: You Don't Know Jack, de Barry Levinson; 2013: Phil Spector, de David Mamet.