O PADRINHO (1972)
Vi
“O Padrinho” na sua estreia em Portugal, em Outubro de 1972, creio que o revi
pouco anos depois, e voltei a vê-lo agora, numa cópia Blu-ray, para escrever
este texto. Também escrevi sobre o filme aquando do seu lançamento e não
costumo lamentar escritos antigos meus. Neste caso, tenho de dar a mão à
palmatória. Foi um dia mau, o meu, ao ver e analisar o filme, muito preocupado
com o que a publicidade excessiva faz aos filmes, e não dando suficiente
importância à obra em si. Por essa altura já alguns exaltados diziam que era “o
melhor filme de sempre”, no que não concordava na altura nem agora, mas os meus
comentários limitavam de alguma forma as qualidades desta realização de Francis
Ford Coppola que, presentemente, não tenho dúvidas em classificar de
obra-prima.
Antes
de “O Padrinho”, Coppola tinha realizado filmes interessantes, mas sem nada que
neles autorizasse supor a existência de um génio. “Demência 13” (1963), “A
Noite é Perversa”, “O Vale do Arco-Íris”, “Chove no Meu Coração” (1969) não
permitiam antever o que viria depois. Desde logo a trilogia “O Padrinho”, em
cinema e televisão, mas igualmente títulos tão importantes como “O Vigilante”,
“Apocalypse Now”, “Do Fundo do Coração”, “Os Marginais”, “Juventude Inquieta”,
“Cotton Club”, “Peggy Sue Casou-se”, “Jardins de Pedra”, “Tucker - O Homem e o
Seu Sonho”, “Drácula de Bram Stoker”, “O Poder da Justiça”, ou “Tetro” (2009), último
título seu até hoje que nos entusiasmou.
A partir de “O Padrinho”, Coppola assume-se
como um dos grandes cineastas do moderno cinema norte-americano, com uma obra
de um fôlego dramático, em simultâneo de um classicismo e de um arrojo formal
que surpreendem e fascinam.
Em “The Godfather” não sei que mais
enaltecer, se a inteligência e lucidez do argumento, se a magnificência e
subtileza da realização, se o espantoso trabalho de actores com que nos
deparamos, se a qualidade técnica e artística da fotografia, da direcção
artística, do guarda roupa, da música, enfim de todos os aspectos desta
magnífica orquestra a funcionar em uníssono para um fim desejado.
Tudo se passa em meados dos anos 40,
terminada a II Guerra Mundial. Em Nova Iorque e na zona que rodeia a metrópole,
algumas famílias da Mafia disputam o poder e a influência que lhes permitam
multiplicar os lucros. Estamos numa época de mudança. Os antigos gangsters dos
anos 30 estavam a desaparecer e a dar lugar a novos empórios com novas
filosofias de sobrevivência. Uma dessas famílias, talvez a mais poderosa e a
mais invejada, era a de Don Corleone (Marlon Brando), que funcionava à moda
antiga, que preferia controlar o jogo, as bebidas, as mulheres, a prostituição
e o proxenetismo, do que alinhar na droga, que se adivinhava surgir em força.
Dom Corleone, contudo, tem um “rigoroso código moral” e não aceita esse negócio
de drogas que lhe é proposto, recusando viciar a juventude. Mais tarde outros
irão aceitar as regras, desde que as drogas duras sejam vendidas sobretudo “a
pretos e latinos”.
Mas é a recusa inicial de Don Corleone
que irá lançar os vários gangs de mafiosos uns contra os outros, culminando
tudo isto com um massacre desapiedado, no meio do qual desaparece não só Dom
Corleone, como familiares, e muitos dos seus principais colaboradores e
adversários. Quando a dinastia dos Corleone parece à beira do total colapso,
eis que um novo “padrinho” surge no horizonte com processos bem mais
“modernos”, muito mais de acordo com o tipo de iniciativas actuais. 0 novo
Corleone (Al Pacino) irá então triunfar onde o velho estilo do gangster de
Chicago dos anos 30 tinha já naufragado. Curioso, no entanto, notar que o novo
“padrinho” surge de início como o descendente que mais longe se encontra de
poder prosseguir a obra do pai, sendo, aliás, cuidadosamente afastado de todos os
negócios menos claros. Porque ele era a face legal, a honra da família, o
brilhante representante de uma aculturação intensa, que estudara, servira no
exército, fora condecorado por actos heroicos. Ele era o homem que a família
conseguira introduzir dentro do sistema americano, que a própria América
homenageara. Parece-nos este um dos aspectos mais curiosos do filme de Coppola
ao documentar este confronto entre duas mentalidades, uma que entra em
declínio, enquanto outra ascende vertiginosamente ao poder, mostrando
igualmente como os seus métodos violentos se mantêm, mas com novas nuances, com
matizes diversos nos seus processos de luta pelo poder.
Neste particular, toda a sequência
(montada em paralelo) de um baptizado e de uma chacina é obviamente elucidativa
dos novos métodos que iludem a agressividade de outrora. A este respeito,
outros se lhe poderão acrescentar, desde a análise de uma situação dominada por
um paternalismo ditatorial (a figura de Don Corleone - Marlon Brando justifica
as suas acções por uma aparente “rectidão moral” e por uma obediência a
preceitos de justiça e regras de moralidade muito próprias, de que facilmente
se descobre a falência), até ao desenho de uma época, passando pelo jogo de
interesses que grupos clandestinos conseguem sustentar com altas
individualidades do poder administrativo e legislativo americanos (senadores,
juízes, juristas, polícia, etc.). No interior deste longo painel de uma
sociedade viciada pelo crime e pela corrupção, iremos ainda encontrar
referências directas a individualidades reconhecíveis, caso do “cantor-actor”
que tudo parece indicar tratar-se de Frank Sinatra, nos tempos em que este
andava por baixo e terá sido a influência de algum “padrinho” que lhe conseguiu
o papel em “Até à Eternidade” que o voltaria a catapultar para a glória,
incluindo com a atribuição de um Oscar que algumas más línguas (quem sabe?)
afirmam ter sido igualmente conquistado com a interferência da Mafia.
Neste aspecto, o filme de Coppola é
terrivelmente eficaz na crítica e no desmontar dos esquemas montados para
assegurarem o progresso económico das “famílias” que trocam favores em todos os
escalões sociais da sociedade certificando-se que para todos os problemas se
encontram “soluções”. “O Padrinho” fala da Mafia nos anos 40, nos EUA. Será que
o que então aí se passava já pertence ao passado? Em grande parte, é claro que
sim. Os métodos são hoje em dia muito mais higienizados, mas não menos
violentos. E as “famílias” diversificaram-se. Hoje não são só os sicilianos, a
corrupção instala-se um pouco por todo o lado, e tudo se faz para se esconder
os processos nada lícitos de enriquecer. É difícil hoje falar-se de um padrinho,
quando eles proliferam a todos os níveis. Só na América? Infelizmente, o que
nos dizem os factos é que os padrinhos não têm pátria. Tudo se sabe numa
democracia? “O Padrinho” também nos mostra como se cozinham as notícias, com
jornalistas comprados que escrevem o que convém a determinada personalidade ou
grupo. Sobretudo como destruir socialmente alguém que não nos interessa que
tenha boa fama. O caso do capitão da polícia que é pago enquanto serve os
interesses, mas de quem depois se descobrem os podres, para arruinar a
reputação é exemplar. Veja-se inclusive como esses podres são conservados em
banho-maria enquanto a figura dá jeito e cumpre as tarefas para que é paga, bem
paga aliás, e como eles saltam para as paragonas dos jornais quando se torna
necessário.
Uma obra bem elaborada na origem,
pensada, estruturada, rica de implicações e significados, subtil no que tenta
fazer passar, é obviamente uma obra que exige no acto de desfrute a mesma
atenção e critério, a mesma complexidade de análise, a exploração de caminhos
diversos. “O Padrinho” é um manancial de interpretações possíveis. Atente-se na
figura de Don Corleone (Marlon Brando). Este chefe da Mafia é um exemplo de
ditador político, que baseia o seu poder na célula familiar, mesmo quando não
existem laços desse género. Quando assim é, eles toram-se protegidos do
“padrinho”, pedem favores e ficam à espera que os mesmos sejam pagos. Tecem-se
assim teias de influências secretas a que se lança mão quando necessário. O
filme começa, aliás, com uma cena absolutamente notável, com um pedido de
favor, na obscuridade da sala privada de Don Corleone, onde este explica as
regras de conduta. Subordinação completa ao seu poder, se pretende um favor que
será conferido de imediato. Mais tarde, o penitente cumprirá o reverso da
medalha, como dono de uma funerária. Mas esta cena é ainda importante para
definir o papel da América como terra prometida, paraíso para os italianos que
a demandam há séculos. Veja-se como este filme de Coppola anda à volta apenas
de italianos, italo-americanos e americanos brancos. Esta é a sociedade que
importa para o “padrinho”. É neste círculo que estabelece as regras, que as faz
cumprir, que negoceia em paridade, que aceita misturas raciais. O padrinho
governa esta sociedade fechada, numa ordem corporativa, dirigida de forma
paternalista (O chefe sabe o que é melhor para todos e impõe esse saber). A
Mafia poderá estar na base de algumas formas ditatoriais, como o fascismo
italiano ou a ditadura corporativa e paternalista de Salazar.
Esta história que Francis Ford Coppola
escreveu de colaboração com Mario Puzo, o autor do romance de onde tudo parte,
mostra-se ainda curiosa de um outro ponto de vista. Claro que a visão dos
responsáveis por este projecto é crítica. Mas não deixa de existir um certo
fascínio por esta sociedade patriarcal, com regras muito definidas e uma defesa
intransigente da família. O próprio Coppola dirige este empreendimento como um
chefe de família, fazendo participar nele toda a família, desde o pai, irmã,
filhos, demais parentes. Olhando para as fotografias de rodagem, o ambiente é igualmente
de fraterna criatividade. Não esquecer, portanto, que Coppola é de origem
italiana, o que fica bem demonstrado ao longo de toda a sua filmografia. A
empatia com os costumes italianos está bem patente nesse fabuloso casamento
inicial, uma das sequências absolutamente inesquecíveis deste filme, bem como o
baptismo que virá depois. Em ambas as sequências a vida é aclamada ao ar livre,
na luminosidade do dia, enquanto os negócios sujos se projectam no interior de
gabinetes escusos, sombrios, que facilmente se associam a velórios. Há
inclusive uma cena de refeição que mostra como os negócios devem ser conduzidos
longe da esfera familiar, longe das mulheres e das crianças. À mesa não se fala
de negócios, é uma norma que urge preservar.
“O Padrinho” mostra como os traidores
são tratados, como os corruptos têm a sorte que merecem, como os leais são
favorecidos, e nunca se mostra o reverso da medalha, o que está por detrás
desta família organizada em função do crime: não há prostitutas na rua ou em
bordeis, não há vítimas de bebida ou de jogo, nem sequer se vê a droga a
progredir no tecido social. O que assistimos é a uma visão interior, íntima,
familiar em torno de um desses imperadores da Mafia na América de 40. Na já
aludida conversa inicial, o dono de uma funerária pede justiça para a filha que
“perdeu a honra” nos braços de um jovem. Ele pretende justiça. Don Vito
pergunta-lhe porque só veio agora. “Fui à polícia, como um bom americano”. “Porque
foi à polícia e não veio ter comigo logo?”, pergunta o padrinho. A confirmação
de que existem duas sociedades, dois poderes, duas justiças justapostas.
Voltando à cena do casamento inicial,
veja-se a mestria de Coppola a desenhar figuras e situações. Existem várias
personagens essenciais ao desenrolar da intriga futura. Em meia dúzia de planos
elas são descritas nos seus traços fundamentais. De Don Vito Corteone até ao
mais insignificante secundário que ensaia no exterior o pequeno diálogo que irá
manter com o padrinho no interior. Esta largueza de desenho, esta minucia de
caracterização são constantes ao longo de toda a obra. Partindo do argumento, esmera-se
na realização, prolonga-se nos diferentes sectores técnicos, da direcção
artística, a fotografia, à música (que Coppola divide pelo felliniano Nino Rota
e pelo próprio pai, Carmine Coppola, que aparece no filme a tocar piano), até
culminar no fabuloso elenco, magistralmente dirigido. Marlon Brandon é genial
como (quase) sempre, muito embora a caracterização me continue a parecer algo
excessiva, passando por Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Sterling Hayde,
John
Cazale, Diane Keaton, Richard Conte até aos actores menos conhecidos, mas todos
eles brilhantes, Al Lettieri, Abe Vigoda, Talia Shire, Gianni Russo, Rudy Bond,
Al Martino, Richard
S. Castellano, John
Marley, entre tantos outros.
O
PADRINHO
Título
original: The Godfather
Realização: Francis Ford Coppola
(EUA, 1972); Argumento: Francis Ford Coppola, Mario Puzo, Segundo romance de
Mario Puzo ("The Godfather"); Produção: Gray
Frederickson, Albert S. Ruddy, Robert Evans; Música: Nino Rota; Fotografia
(cor): Gordon Willis; Operador de câmara: Michael Chapman; Montagem: William
Reynolds, Peter Zinner; Casting: Louis DiGiaimg, Andrea Eastman, Fred Roos,
Riccardo Bertoni; Design de produção: Dean Tavoularis; Direcção artística:
Warren Clymer; Decoração: Philip Smith; Guarda-roupa: Anna Hill Johnstone, George
Newman, Marilyn Putnam, Joan Joseff; Maquilhagem: Philip Leto, Phil Rhodes,
Dick Smith; Direcção de Produção: Fred C. Caruso, Valerio De Paolis,Ned Kopp;
Assistentes de realização: Tony Brandt, Fred T. Gallo, Stephen F. Kesten,
Steven P. Skloot; Departamento de arte: William Canfield, Robert Hart, Robert
Scaife; Som: Charles Grenzbach, Christopher Newman, Richard Portman; Efeitos
especiais: Sass Bedig, A.D. Flowers, Joe Lombardi, Paul J. Lombardi; Efeitos
visuais (restauro, 2007): Kevin Chaja, Padraic Culham, Daphne Dentz, Karina
Desin, Bill Roper, etc. Companhias de produção: Paramount Pictures, Alfran
Productions; Intérpretes: Marlon
Brando (Don Vito Corleone), Al Pacino (Michael Corleone), James Caan (Sonny
Corleone), Richard S. Castellano (Clemenza), Robert Duvall (Tom Hagen),
Sterling Hayde (Capt. McCluskey), John Marley (Jack Woltz), Richard Conte
(Barzini), Al Lettieri (Sollozzo), Diane Keaton (Kay Adams), Abe Vigoda
(Tessio), Talia Shire (Connie), Gianni Russo (Carlo), John Cazale (Fredo), Rudy
Bond (Cuneo), Al Martino (Johnny Fontane), Morgana King (Mama Corleone), Lenny
Montana (Luca Brasi), John Martino, Salvatore Corsitto, Richard Bright, Alex
Rocco, Tony Giorgio, Vito Scotti, Tere Livrano, Victor Rendina, Jeannie Linero,
Julie Gregg, Ardell Sheridan, Simonetta Stefanelli, Angelo Infanti, Corrado
Gaipa, Franco Citti, Saro Urzì, Chris Anastasio, Norm Bacchiocchi, Max Brandt,
Tybee Brascia, Carmine Coppola (pianist), Gian-Carlo Coppola (no baptizado),
Italia Coppola (Extra), Roman Coppola (rapaz no passeio a ver passar o
funeral), Sofia Coppola (Michael Francis Rizzi), Don Costello (Don Victor
Stracci), Robert Dahdah, Richard Fass, Gray Frederickson, Ron Gilbert, Anthony
Gounaris, Joe Lo Grippo, Sonny Grosso, Louis Guss, Merril E. Joels, Randy Jurgensen,
Tony King, Peter Lemongello, Tony Lip, Frank Macetta, Lou Martini Jr., Raymond
Martino, Joseph Medaglia, Carol Morley, Rick Petrucelli, Joe Petrullo, Burt
Richards, Sal Richards, Tom Rosqui, Nino Ruggeri, Frank Sivero, Filomena
Spagnuolo, Joe Spinell, Gabriele Torrei, Nick Vallelonga, Ed Vantura, Ron Veto,
Matthew Vlahakis, Conrad Yama, etc. Duração:
175 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Filmes / Paramount Pictures;
Classificação etária: M/ 17 anos (posteriormente: M/ 18 anos); Data de estreia
em Portugal: 24 de Outubro de 1972.
MARLON BRANDO (1924 -
2004)
Considerado por muitos como “o melhor actor de cinema de todos os
tempos”, Marlon Brando, que revolucionou decididamente as artes dramáticas nos
Estados Unidos com suas actuações em “Um Eléctrico Chamado Desejo”, em 1951, e
“Há Lodo no Cais”, em 1954, e que, depois, em 1972, criaria a mítica personagem
de Don Vito Corleone em “O Padrinho”, morreu aos 80 anos, num hospital de Los
Angeles.
Foi, desde o início da carreira no cinema, no princípio da década de 50,
um actor que deu corpo e alma a um tipo de herói americano por excelência. Na
América individualista, há vários géneros de heróis, do “self made man”
vencedor, que faz a imagem dos Estados Unidos triunfalistas, ao anti-herói
amargurado por dúvidas, com ou sem causas a defender, sacrificado e mortificado
por uma sociedade desapiedada, onde só os mais fortes e sem escrúpulos
triunfam. Antes de Marlon Brando, tinha havido já ensaios tímidos desta
personagem, com actores como John Garfield, depois dele alguns outros surgiram
a dar corpo a essa imagem, como James Dean, Montgomery Clift, Paul Newman ou
Steve McQueen. Mais recentemente, Sean Penn ou Leonardo di Caprio podem ser
dados como sucessores da dinastia. São sedutores inatos, personagens
românticas, almas transviadas, perdidas, incapazes de segurar momentos de
perfeição ou plenitude. Momentos que atravessam, para se perderem logo a
seguir, num ímpeto de rebeldia, num acesso de independência gratuita, que
apenas procura marcar uma atitude.
Marlon Brando teve uma infância infeliz. Mas onde é que já se leu esta
frase adaptada a actores norte-americanos, daqueles que para sempre marcaram a
história do teatro e do cinema mundiais? Nasceu em Omaha, no Estado do
Nebraska, a 3 de Abril de 1924, numa família que mesclava as suas origens
irlandesas com antepassados franceses e ingleses. Chamavam-se originalmente
Brandeau.
O pai, de nome Marlon Brando, era um vendedor de carbonato de cálcio e a
mãe, cujo nome de solteira era Dorothy Pennebaker, trabalhava no Teatro
Comunitário de Omaha, onde ocasionalmente era actriz. Foi ela quem levou Marlon
Brando ao teatro pela primeira vez. Era um rapaz rebelde e o pai mandou-o para
uma escola militar, a Shattuck Military Academy, em Fairbult, Minnesota, para o
disciplinar, mas foi rapidamente expulso. Voltou a casa, por uns tempos, mas
aos 19 anos mudou-se para Nova Iorque, dividindo um apartamento com sua irmã
Frances. Era a independência. O gosto da liberdade, que não mais deixou de
perseguir. Na academia militar, apenas um professor de inglês que também
encenava peças de teatro, manifestara optimismo na carreira futura de Brando.
Quando saiu da escola, despediu-se dele com um reconfortante “o mundo ainda
há-de ouvir falar de ti!” Como só o tinham elogiado no teatro, pensou: “Vou ser
actor!”
Em 1943, Brando inscreve-se num curso de teatro dirigido pelo emigrante
alemão Erwin Piscator. Frequentou o Dramatic Workshop da New School for Social
Research, tendo como professora Stella Adler, que vivera em Moscovo na década
de 30 e estudara e trabalhara com Konstantin Stanislavsky no Teatro das Artes
de Moscovo. Na América, animou o Group Theatre que usava o “método” de
Stanislavsky, segundo o qual cada actor tinha de alimentar as personagens que
criava com as emoções da sua própria personalidade. Marlon Brando sempre esteve
mais próximo de Stella Adler do que do outro seguidor do método, Lee Strasberg,
de quem, aliás, se distanciou tempos mais tarde, acusando-o de oportunismo e
muito mais.
Em 1944 aparece na Broadway, na obra – não musical - de Rodgers and
Hammerstein "I Remember Mama", que esteve dois anos em cena. Em 1946,
Brando interpreta o drama de Maxwell Anderson “Truckline Café”, dirigido por
Elia Kazan, o mesmo encenador que lhe daria o papel de Kowalski em “Um
Eléctrico Chamado Desejo”, em 1947. A personagem do brutal marido de Stella na
obra-prima de Tennessee Williams, que interpretou durante dois anos na
Broadway, lança-o definitivamente no sucesso.
Entretanto, estreia-se no cinema em 1950, em “The Men”, de Fred
Zinnemann, ao lado de Teresa Wright, num papel que à partida não se imaginaria
entregue ao recém-criado “sex symbol” que apaixonara Nova Iorque no teatro. Mas
a verdade é que Brando é um paraplégico, preso a uma cama ou a uma cadeira de
rodas. Foi o início de uma carreira brilhante, com algumas dezenas de filmes
inesquecíveis.
Filmografia
1. Como Actor: 1950: The
Men ou “Battle
Stripe” (O Desesperado), de Fred
Zinnemann; 1951: A Streetcar Named
Desire (Um Eléctrico Chamado Desejo), de Elia Kazan; 1952: Viva Zapata! (Viva Zapata!), de Elia Kazan; 1953: Julius Caesar ou “William
Shakespeare's Julius Caesar” (Júlio
César), de Joseph L. Mankiewicz; 1953:
The Wild One (O Selvagem), de László Benedek; 1954: On the Waterfront (Há Lodo No Cais), de Elia Kazan; 1954: Desirée (Desirée, O Primeiro Amor de
Napoleão), de Henry Koster; 1955:
Guys and Dolls (Eles e Elas), de Joseph L. Mankiewicz; 1956: The Teahouse of the August Moon (A Casa de Chá do Luar de
Agosto), de Daniel Mann; 1957:
Sayonara (Sayonara), de Joshua Logan; 1958:
The Young Lions (Os Jovens Leões), de Edward Dmytryk; 1959: The Fugitive Kind (O Homem na Pele da Serpente), de Sidney
Lumet; 1961: One-Eyed Jacks (Cinco Anos
Depois), de Marlon Brando; 1962: Mutiny
on the Bounty (Revolta na Bounty), de Lewis Milestone, Carol Reed (não
creditado); 1963: The Ugly American (Sua
Excelência, o Embaixador), de George Englund; 1964: Bedtime Story (Os Sedutores), de Ralph Levy; 1965: Morituri ou “The Saboteur, Code Name
Morituri” (Morituri), de Bernhard Wicki;
1966: The Chase (Perseguição Impiedosa), de Arthur Penn;
1966: The Appaloosa ou “Southwest to
Sonora” (Um Homem sem Medo), de
Sidney J. Furie; 1967: A Countess from
Hong Kong (A Condessa de Hong Kong),
de Charles Chaplin; 1967: Reflections
in a Golden Eye (Reflexos num Olho
Dourado), de John Huston; 1969: Queimada (Queimada), de Gillo Pontecorvo; 1972: The Nightcomers (Os
Perversos), de Michael Winner; 1972:
The Godfather (O Padrinho), de Francis Ford Coppola; 1972: Ultimo Tango a Parigi ou “Last Tango
in Paris” ou “Le Dernier Tango à Paris” (O
Último Tango em Paris), de Bernardo Bertolucci; 1976: The Missouri Breaks (Duelo no Missouri), de Arthur Penn; 1978: Superman ou “Superman: The Movie” (Super-Homem, o Filme), de Richard
Donner; 1979: Apocalypse Now (1979) Apocalypse Now Redux (2001) (Apocalipse
Now e Apocalipse Now Redux), de Francis Ford Coppola; 1979: Roots: The Next Generations (Raizes: A Próxima Geração), de Lloyd
Richards, John Erman, Charles S. Dubin, Georg Stanford Brown (mini-série para TV);
1980: The Formula (A Fórmula), de de
John G. Avildsen; 1989: A Dry White
Season (Assassinato Sob Custódia), de Euzhan Palcy; 1990: The Freshman (O Caloiro da Máfia), de
Andrew Bergman; 1992: Christopher
Columbus: The Discovery (Cristovão Colombo: A Descoberta), de John Glen;
1992: The Godfather Trilogy (O Padrinho
– A Trilogia), de Francis Ford Coppola; 1995: Don Juan DeMarco (Don Juan de Marco), de Jeremy Leven; 1996: The
Island of Dr. Moreau (A Ilha do Dr. Moreau), de John Frankenheimer, Richard
Stanley (não creditado, despedido e substituído por John Frankenheimer); 1997: The Brave (O Bravo), de Johnny Depp; 2001: The Score (Sem Saída), de Frank
Oz, Robert De Niro (não creditado); 2006:
Big Bug Man, de Bob Bendetson, Peter Shin;
2. Como Realizador: 1961: One-Eyed Jacks
(Cinco Anos Depois), de
Marlon Brando.
AL
PACINO (1940 - )
Alfredo James Pacino, mais conhecido por
Al Pacino, nasceu em Nova Iorque (East Harlem), a 25 de Abril de 1940), filho
de italo-americanos, Salvatore Pacino e Rose, que se divorciaram quando ele
tinha dois anos. A mãe mudou-se para próximo do Zoológico do Bronx para morar
com seus pais, que, curiosamente, eram provenientes de uma pequena cidade
siciliana de nome Corleone. O pai viajou para Covina, na Califórnia, onde trabalhou
em seguros e como proprietário de um restaurante. "Sonny", como era
conhecido pelos amigos, pensava vir a ser jogador de basebol, mas abandonou a
escola aos 17 anos e fugiu de casa. Empregou-se como mensageiro, empregado de
correios e finanças, com o que conseguiu pagar as aulas de interpretação. Era
tido como problemático e arruaceiro. Começou a fazer teatro, em teatro de
amador, em garagens, tentou o Actors Studio, mas foi rejeitado. Acabou por
ingressar no Herbert Berghof Studio (HB Studio), onde foi aluno de Charlie
Laughton (nada a ver com actor Charles Laughton), que se tornou seu mentor e
melhor amigo. Em finais dos anos 60, estuda sob a orientação de Lee Strasberg,
o que funcionou igualmente como terapia para os seus problemas de juventude
rebelde, causados pela pobreza e o meio opressor onde vivia. Começou a
trabalhar no teatro profissional, e o talento foi reconhecido. Ganhou um Obie
Award pela sua interpretação em “The Indian Wants the Bronx” e um Tony Award
por “Does the Tiger Wear a Necktie?”. O seu primeiro trabalho no cinema data de
1969, “Me Natalie”. Em 1971, com o seu trabalho “The Panic in Needle Park”,
ganhou notoriedade e chamou a atenção de Francis Ford Coppola, que lhe entrega
o papel de Michael Corleone no filme “The Godfather”, de 1972. Com ele recebeu
a primeira nomeação para o Oscar de Melhor Actor secundário. Dois anos depois,
somaria outra nomeação, agora como Melhor Actor, em “The Godfather: Part II”.
Só em 1993 Al Pacino conseguiria alcançar o Oscar, com o seu trabalho em “Scent
of a Woman”. No mesmo ano, foi também nomeado novamente como Melhor Actor
Secundário, em “Glengarry Glen Ross”. A sua carreira vive um período de ouro,
com intervenções em filmes notáveis. A década de 1980 não lhe foi tão
favorável, integrando alguns fracassos (“Cruising” ou “Author! Author!”),
apesar de o manter em bom nível, por exemplo em “Scarface”, onde volta a ser
premiado nos Globos de Ouro. Em “Revolution”, de 1985, tem a que é considerada
uma das suas piores interpretações, mas regressa no final na década em “Sea of
Love”, mantendo as excelentes interpretações em obras como “Serpico”, “Dog
Day Afternoon”, “...And Justice for All”, “Carlito’s Way”, “Heat”, “Donnie
Brasco” ou “The Recruit”.
Em simultâneo, nunca abandonou o teatro,
sendo frequente encontrá-lo nos palcos da Broadway (e também off-Broadway).
Sempre com grande sucesso, e muitas vezes em reportório shakespeariano. Ganhou
Tonys pelas participações em “Does a Tiger Wear a Necktie?” (1969) e “The Basic
Training of Pavlo Hummel” (1977). Estreia-se como realizador com “The Local
Stigmatic”, nunca concluído, continuando depois com dois títulos extremamente
interessantes, “Looking for Richard” e “Chinese Coffee”.
Filmografia:
No cinema: 1969: Me, Natalie (Sou eu, a
Natália), de Fred Coe; 1971: The Panic in Needle Park (Pânico em Needle Park),
de Jerry Schatzberg; 1972: The Godfather (O Padrinho), de Francis Ford Coppola;
1973: Scarecrow (O Espantalho) de Jerry Schatzberg; 1973: Serpico (Serpico), de
Sidney Lumet; 1974: The Godfather Part II (O Padrinho, Part II), de Francis
Ford Coppola; 1975: Dog Day Afternoon (Um Dia de Cão), de Sidney Lumet; 1977:
Bobby Deerfield (Bobby Deerfield, Um Momento, Uma Vida), de Sydney Pollack;
1979: And Justice for All (...E Justiça para Todos), de Norman Jewison; 1980:
Cruising (A Caça), de William Friedkin; 1982: Author! Author! (O Palco e a
Vida), de Arthur Hiller; 1983: Scarface (Scarface - A Força do Poder), de Brian
De Palma; 1985: Revolution (Revolução), de Hugh Hudson; 1989: Sea of Love (Perigosa
Sedução), de Harold Becker; 1990: Dick Tracy (Dick Tracy), de Warren Beatty;
The Godfather Part III (O Padrinho, Parte III) de Francis Ford Coppola; 1991:
Frankie and Johnny (Frankie e Johnny), de Garry Marshall; 1992: Glengarry Glen
Ross (Sucesso a Qualquer Preço), de James Foley; Scent of a Woman (Perfume de
Mulher), de Martin Brest; 1993: Carlito's Way (Perseguido Pelo Passado) de
Brian De Palma; 1995: Heat (Heat - Cidade Sob Pressão), de Michael Mann; 1996:
City Hall (A Sombra da Corrupção), de Harold Becker; Looking for Richard (À
Procura de Richard), de Al Pacino; 1997: Donnie Brasco (Donnie Brasco), de Mike
Newell; Devil's Advocate (O Advogado do Diabo) de Taylor Hackford; 1999: The
Insider (O Informador), de Michael Mann; Any Given Sunday (Um Domingo Qualquer)
de Oliver Stone; 2000: Chinese Coffee de Al Pacino; 2002: Insomnia (Insónia),
de Christopher Nolan; S1m0ne (Simone), de Andrew Niccol; 2003: The Recruit (O
Recruta), de Roger Donaldson; 2004: The Merchant of Venice (O Mercador de Veneza),
de Michael Radford;2007: 88 Minutes (88 Minutos), de Jon Avnet; 2007: Ocean's
Thirteen (Ocean's Thirteen), de Steven Soderbergh; 2008: Righteous Kill (A
Dupla Face da Lei), de Jon Avnet; 2011: Wilde Salome (Salomé), de Al Pacino;
2013: Stand Up Guys (Gangsters da Velha Guarda) de Fisher Stevens; 2015: The
Humbling (A Humilhação), de Barry Levinson; 2015: Danny Collins (Danny Collins
- Nunca é Tarde), de Dan Fogelman; 2016: Misconduct (Misconduct - Jogos
Perigosos) de Shintaro Shimosawa; 2017: Where the White Man Runs Away, de Bryan
Buckley; 2018: The Irishman, de Martin Scorsese (em preparação).
Televisão: 2003: Angels in America, de Mike Nichols; 2010: You Don't
Know Jack, de Barry Levinson; 2013: Phil Spector, de David Mamet.
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